Variedades

Fotografia – arte, memória e informação no nosso dia a dia

No Dia Mundial da Fotografia, profissionais e amadores celebram clicando o mundo ao seu redor.
Uma das maiores invenções da humanidade, a fotografia registra e transforma histórias.
Imagens servem para informar, eternizar lembranças e expressar arte.

No Dia Mundial da Fotografia, vale refletir sobre como essa invenção do século XIX se tornou um dos hábitos mais comuns da vida moderna. Do cafezinho da tarde ao registro pós-treino, a fotografia se banalizou — mas sem perder sua relevância. Hoje, mais do que guardar lembranças, ela se consolidou como prova das experiências, a ponto de muitos momentos parecerem incompletos sem o clique da câmera.

Na banalização fotográfica, todos são fotógrafos e modelos fotográficos. Não bastassem as câmeras dos celulares que facilitaram os cliques ao embutir comandos automatizados que substituíram as habilidades e competências antes exigidas aos profissionais do ramo. É possível contar com centenas de tutoriais para a realização da foto perfeita, com a ajuda de duas pessoas segurando um espelho, pétalas de rosas e uma tarde ensolarada. E para os modelos presos à “pose de xícara”, tutoriais apresentam a salvação, sugerindo o que fazer com os braços. Difícil é lembrar dessas dicas na hora da foto.

O normal tornou-se o clichê do grupo de turistas em férias, outrora citado pela autora Susan Sontag, ao criticar a insistente presença das interfaces de câmeras fotográficas entre pessoas e acontecimentos. Mais importante do que estar em um determinado lugar, desfrutando do momento, é tê-lo capturado, eternizado num instante. Até aí não haveria nada de novo, não fosse a ressignificação do sentido atribuído a esse hábito. A banalização da fotografia transformou a sua finalidade. Ela deixou de ser apenas a busca por eternizar o fotografado e se tornou uma ferramenta para a exposição da intimidade, criando narrativas de ostentação em perfis de redes sociais. Exemplo disso foi a onda de fotografias realizadas após relações sexuais e postadas em feeds.

É certo que o caráter indicial da fotografia – a crença de que ela é um registro fiel do real – foi seriamente comprometido, em vista da ampla divulgação das técnicas de manipulação da imagem, em particular o uso de inteligência artificial. Em tempos de crimes cibernéticos, o questionamento acerca da idoneidade da fotografia poderia ser considerado saudável se não beirasse a paranoia do momento. Para se ter uma ideia, há um par de anos, o fotógrafo Boris Eldagsen se envolveu em uma polêmica ao vencer um concurso de fotografia com uma imagem gerada por IA. Tempos depois, uma fotógrafa, Suzi Dougherty, teve sua uma foto desclassificada de um concurso por ser confundida com uma imagem gerada por IA.

Para muito além da indicialidade corrompida, acadêmicos discutem a perda da autoria das fotografias digitais, do rompimento de seu elo com a arte e até a fragilidade de sua raiz etimológica. Debates dessa natureza fazem lembrar de um texto clássico do frankfurtiano Walter Benjamin, que apresenta a fotografia como uma arte que nasceu para ser reproduzida. E assim a fotografia segue tal qual um camaleão se conformando às características das diferentes épocas.

Esse texto não poderia deixar de tangenciar a fotografia jornalística. E nesse tópico seriam dispensáveis os argumentos, bastando citar o recente close do rosto da cantora e atriz Preta Gil, no caixão, sendo velada pelos familiares, artistas e fãs. Na esfera do jornalismo está pressuposta a condenação da manipulação das fotografias, mas há de se observar na representação honesta da realidade a manutenção da dignidade, do respeito e da privacidade da pessoa fotografada e de seus familiares.

O autor francês Roland Barthes, que não era fotógrafo, mas fascinado pela fotografia, destacou um viés além do cultural depositado numa imagem fotográfica. Ele identificou diferentes leituras de uma mesma fotografia quando observada por diferentes pessoas. Segundo Barthes, para cada espectador, da fotografia salta um determinado detalhe que punge, toca e até fere o observador, como um ferrão. A esse detalhe chamou de punctum.

 

Cláudia Ribeiro Monteiro Lopes, Coordenadora dos Cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Martha Falcão Wyden.

Edição – Coopnews

Foto – Agencia GOV

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