No último dia 22 de agosto foi lançado oficialmente em São Paulo o InovaSenior, iniciativa criada por ex-alunos da Escola Politécnica da USP (Poli) e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O projeto nasce com a missão de reconectar engenheiros com mais de 60 anos ao mercado de trabalho, utilizando tecnologia, inovação e uma agenda robusta de ESG (ambiental, social e governança) para valorizar o capital intelectual de uma população que cresce a passos largos no Brasil.
O projeto nasceu a partir de dados do IBGE, apontando que em 2070, 37,8% dos brasileiros terão mais de 60 anos. Esse dado, por si só, mostra a urgência de repensar o lugar da velhice na sociedade. Mas, além disso, o país vive outro desafio: a escassez de engenheiros. Enquanto a Coreia do Sul conta com 21 engenheiros para cada advogado e o Chile com 8,8, o Brasil tinha em 2018 apenas 1,3. Entre 2014 e 2019, o número de ingressantes em cursos de engenharia caiu 39%, e o apoio a pesquisadores da área pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), vinculada ao Ministério da Educação, foi um dos que mais encolheram na última década.
“Estamos em uma fase exponencial da evolução tecnológica. Se não tivermos engenheiros para acompanhar esse processo, o Brasil pode ficar muito para trás. É assim que surgiu a ideia do InovaSenior”, explica Duperron Ribeiro, diretor da PoliAlumni, em entrevista à Rádio USP (Projeto Inova Sênior pretende reintegrar engenheiros 60+ ao mercado de trabalho, Jornal da USP, 20 ago. 2025).
Uma ponte entre experiência e inovação
O InovaSenior não busca reinventar engenheiros do zero. A proposta é usar a bagagem já existente e conectá-la às demandas atuais. “É como se fosse uma ponte: de um lado, engenheiros com muita experiência e vontade de ajudar; do outro, empresas, universidades, startups e governos enfrentando desafios concretos. A ideia é que essas pessoas encontrem tanto empresas que necessitem das suas habilidades quanto parceiros para empreender. Conectar as pontas por meio de uma plataforma digital, inteligência artificial e eventos presenciais”, detalha Ribeiro.
Esse modelo evita a “fuga de cérebros”, já que esses profissionais não têm interesse em emigrar. Ao contrário, desejam contribuir localmente para o desenvolvimento do país. E mais: ao recolocar imediatamente engenheiros 60+ em atividade, o projeto oferece uma resposta rápida ao déficit, já que a formação de novos profissionais pode levar até 14 anos.
Longevidade como potência criativa
“Temos um bônus de longevidade. Segundo alguns autores, como Peter Diamandis, pessoas com mais de 60 anos ainda podem trabalhar por mais 30 anos. Nunca tivemos tantas pessoas com experiência, saúde e disposição para continuar contribuindo”, destaca Ribeiro (Jornal da USP, 2025). Para ele, o InovaSenior combate dois problemas ao mesmo tempo: o desperdício de conhecimento técnico e o isolamento social, que frequentemente leva a problemas de saúde mental entre pessoas idosas.
Para Ricardo Pessoa, coordenador do InovaSenior, “seniores são hoje uma reserva de competência e qualificação técnica que nos possibilitará crescer enquanto enfrentamos o desafio de melhorar nossa educação básica” (LinkedIn, 2025).
Estrutura, metas e impacto
O programa será financiado por meio de doações dedutíveis do Fundo do Idoso, permitindo que empresas e pessoas físicas direcionem parte do imposto de renda à causa. A meta é captar até R$ 15 milhões em cinco anos, investir na capacitação de 200 engenheiros seniores nos três primeiros anos, desenvolver 10 projetos de inovação de impacto e engajar mais de 300 empresas parceiras.
O projeto também prevê a criação de um Escritório de Projetos de Inovação (PD&I) para captar recursos de agências de fomento como FINEP, ANEEL, ANP e FAPESP.
No campo do ESG, o InovaSenior se compromete com três pilares:
1) Social: combater o etarismo, promover inclusão produtiva e reforçar autoestima e saúde mental de profissionais experientes;
2) Ambiental: aplicar capital intelectual acumulado em projetos sustentáveis;
3) Governança: garantir transparência com auditoria independente e parcerias institucionais sólidas.
Honrar o passado, construir o futuro
“O InovaSenior nasceu para transformar experiência em ativo estratégico para o país. É um projeto que honra o passado, atua no presente e constrói o futuro”, conclui Duperron Ribeiro, afinal, envelhecer não é sinônimo de parar, mas de continuar a criar, inovar e transformar.
Fonte – Portal do Envelhecimento
Foto – Divulgação