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As pessoas idosas serão as principais vítimas das ondas letais de calor

Existem duas megatendências que vão predominar no mundo ao longo do século XXI: 1) o aumento da temperatura média global do Planeta; e 2) O aumento da quantidade de pessoas idosas com 60 anos e mais de idade. O choque entre as duas tendências ocorre porque o calor extremo não é bom para a saúde dos idosos.

O gráfico mostra que havia 200 milhões de idosos no mundo, com 60 anos e mais de idade, em 1950, representando 8% da população global. Este número passou para 1,14 bilhão em 2023 (representando 14,2% do total populacional). A Divisão de População da ONU projeta 3,1 bilhões de idosos, representando 30% da população global de 10,4 bilhões de habitantes, em 2100.

Portanto, o mundo tinha 200 milhões de idosos em 1950, chegou a 1 bilhão em 2018 e deve alcançar mais de 3 bilhões de idosos em 2100. Não custa lembrar que as crianças de hoje serão os anciões do futuro. Nos próximos 80 anos serão cerca de 2 bilhões de idosos a mais no mundo. O desafio será evitar o desequilíbrio climático que, se ocorrer de maneira descontrolada, afetará a sobrevivência e a qualidade de vida da população da terceira idade.

O outro evento que tem marcado o Planeta é o aquecimento global. O gráfico abaixo da NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA) mostra que até cerca de 1940 as temperaturas anuais (em azul) estavam abaixo da média do século XX e depois de 1970 as temperaturas anuais (em vermelho) ficaram consistentemente maiores do que a média do século XX. Na década de 1950 houve uma variação positiva de 0,12º Celsius.

Mas a partir dos anos 70, o aquecimento global iniciou uma subida espetacular. Na década de 1970 a variação decenal da temperatura foi de 0,23º C. Nas três décadas seguintes a variação decenal ficou em torno de 0,15º C. Mas na década passada (2011-20) o aumento decenal saltou para 0,44º C, um ritmo nunca visto na série de 1880-2020 e nem em qualquer momento do Holoceno (últimos 12 mil anos).

O que estava ruim na década passada piorou na atual década. O mês de julho de 2023 registrou a maior temperatura mensal dos últimos 120 mil anos. A temperatura da água marinha na ponta da Flórida atingiu os níveis das banheiras de hidromassagem, ultrapassando 37,8 graus Celsius por dois dias seguidos, o que os meteorologistas dizem que pode ser a água do mar mais quente já medida. A temperatura bateu recordes nos continentes e nos oceanos. No Atlântico Norte, a temperatura ultrapassou os 25º Celsius em agosto de 2023, pela primeira vez nos registros da civilização humana. O Homo sapiens nunca conviveu com temperaturas tão elevadas.

Se o aquecimento global continuar no ritmo atual, a civilização estará, no longo prazo, no caminho de uma catástrofe. As ondas letais de calor e de fogo vão se intensificar e temperaturas acima de 40º Celsius vão se tornar mais comuns e mais duradouras. Todas as populações humanas e não humanas vão sofrer. Estudo publicado na revista acadêmica Nature Medicine, indicou que 61 mil morreram em onda de calor de 2022 somente na Europa. O calor excessivo está se tornando um problema de saúde pública, além de ameaçar o desempenho da economia.

A consultoria Deloitte revela que a inação sobre a mudança climática pode custar à economia mundial US$ 178 trilhões até 2070, mas, por outro lado, a economia global poderia ganhar US$ 43 trilhões nas próximas cinco décadas, acelerando rapidamente a transição energética para emissões líquidas zero.

Se as temperaturas elevadas aumentam os riscos ​​para todas as pessoas, entre os indivíduos mais velhos podem ser mortais. Os idosos não suam ou esfriam tão eficientemente quanto os mais jovens. O estresse por calor pode piorar as condições subjacentes, como doenças cardíacas, pulmonares e renais e o calor extremo pode desencadear delírios.

Os efeitos do aquecimento global e das ondas letais de calor sobre a saúde dos idosos são preocupantes, pois, sem dúvida, as pessoas mais velhas são particularmente vulneráveis aos extremos de temperatura, especialmente aquelas com alguma comorbidade. A seguir estão alguns dos impactos que podem ser observados:

1 – Aumento das doenças cardiovasculares: O calor extremo coloca um estresse adicional no sistema cardiovascular dos idosos, aumentando o risco de ataques cardíacos, derrames e outras complicações relacionadas ao coração.

2 – Desidratação: Os idosos têm uma capacidade reduzida de regular a temperatura corporal e podem não sentir sede adequadamente, tornando-os mais suscetíveis à desidratação durante períodos de calor intenso.

3 – Insolação e golpe de calor: Os idosos são mais propensos a sofrerem insolação e golpes de calor, uma vez que têm menos capacidade de se resfriar por meio do suor e podem não perceber os sinais iniciais dessas condições.

4 – Agravamento de condições crônicas: Temperaturas extremas podem agravar condições de saúde preexistentes, como doenças respiratórias, diabetes e hipertensão arterial, tornando a gestão dessas condições mais difícil.

5 – Aumento de infecções relacionadas ao clima: O aquecimento global também pode afetar os padrões de doenças infecciosas, como doenças transmitidas por mosquitos, carrapatos ou outros vetores, e os idosos podem ter maior suscetibilidade a essas infecções.

6 – Problemas respiratórios: A qualidade do ar pode ser afetada pelo aumento das temperaturas, o que pode agravar problemas respiratórios, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

7 – Estresse térmico: Os idosos podem ter dificuldade em regular sua temperatura corporal durante ondas de calor, levando a estresse térmico e exaustão.

8 – Mobilidade reduzida: Com o envelhecimento, muitos idosos têm mobilidade limitada, o que pode dificultar a busca por abrigo ou áreas mais frescas durante episódios de calor extremo.

9 – Isolamento social: O calor excessivo pode levar ao isolamento social, pois os idosos podem evitar sair de casa para evitar os riscos associados ao calor, o que pode impactar negativamente sua saúde mental.

10 – Impacto na saúde mental: O estresse e as preocupações relacionadas ao calor extremo e às mudanças climáticas em geral podem afetar a saúde mental dos idosos, contribuindo para a ansiedade e depressão.

É importante destacar que o aquecimento global é uma questão complexa e multifacetada, e os impactos na saúde dos idosos são apenas uma parte das muitas consequências que podem ocorrer devido às mudanças climáticas. Ações para mitigar o aquecimento global e proteger os grupos vulneráveis, como os idosos, são essenciais para preservar a saúde e o bem-estar das futuras gerações, pois as ondas de calor podem se constituir em uma pandemia muito mais letal e prejudicial do que a Covid-19.

As crianças também são muito vulneráveis ao aumento da temperatura. Mas as projeções da ONU indicam que, em 2100, haverá cerca de 560 milhões de crianças de 0 a 4 anos (cerca de 5% da população total) e 3,1 bilhões de idosos de 60 anos e mais de idade (cerca de 30% da população total).

O melhor é prevenir para não precisar remediar. Ações para mitigar o aquecimento global são essenciais, pois a quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera já ultrapassou os limites para evitar romper a barreira de 1,5º C em relação ao período pré-industrial. Políticas de adaptação também serão cada vez mais necessárias para minimizar a morbidade e a mortalidade. A humanidade terá que aprender a lição de que o bem-estar das pessoas, especialmente dos idosos, dependerá, cada vez mais, do bem-estar ambiental e da estabilidade climática.

 

 

Fonte – Portal do Envelhecimento

Foto – Divulgação

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