Na semana de aniversário, de 21 a 26 de abril, a Embrapa lança um projeto que busca fortalecer a cadeia produtiva da castanha-da-amazônia, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região e promovendo a sociobiodiversidade inclusiva. Intitulada “Novas Soluções Tecnológicas e Ferramentas para Agregação de Valor à Cadeia Produtiva da Castanha-da-Amazônia” (NewCast), a iniciativa tem como objetivo contribuir para superar desafios na produção, melhorar a qualidade do produto, expandir a base produtiva, valorizar a castanha no mercado e fortalecer comunidades extrativistas.
A líder do projeto, a pesquisadora Patricia da Costa, da Embrapa Meio Ambiente, destaca a importância do produto para a economia e cultura da região. “A castanha-da-amazônia tem grande importância socioeconômica para a região, gerando emprego e renda para milhares de famílias, agroextrativistas, tanto de populações originárias e tradicionais da Amazônia, quanto de produtores rurais migrantes de outras regiões”.
O NewCast visa desenvolver soluções inovadoras que contribuam para aumentar a produtividade, a qualidade e a competitividade da castanha-da-amazônia no mercado, além de fortalecer as comunidades extrativistas parceiras e garantir a conservação de grandes áreas de floresta.
O projeto conta com a participação de pesquisadores de cinco unidades da Embrapa na Amazônia (Amapá, Roraima, Rondônia, Amazônia Ocidental e Amazônia Oriental) e duas no Sudeste (Instrumentação e Meio Ambiente). Como comunidades parceiras e beneficiárias diretas, participam associações representativas de duas reservas extrativistas (Resex) em nível federal: Rio Cajari (Amapá) e Baixo Rio Branco-Jauaperi (Roraima/Amazonas); uma reserva de desenvolvimento sustentável (RDS) em nível estadual: Uatumã (Amazonas); e uma terra indígena: Rio Branco (Rondônia).
O projeto contempla quatro eixos de atuação: coleta e transporte; qualidade e sanidade; expansão da base produtiva e uso sustentável da floresta; e geração de dados para subsidiar políticas públicas.
No aspecto da coleta e transporte de castanha, o pesquisador Marcelino Guedes, da Embrapa Amapá, explica que o trabalho é árduo – os extrativistas carregam nas costas pesos excessivos, em trilhas de difícil acesso dentro da floresta, fazendo movimentos repetitivos durante longos períodos. “Assim, o desenvolvimento e a validação de equipamentos com melhor ergonomia e mais adequados aos biotipos dos castanheiros podem reduzir o esforço necessário na coleta, com reflexos na saúde e no bem-estar dos coletores.”
Com relação à qualidade e sanidade das castanhas, serão desenvolvidas ferramentas de gestão e estabelecidos critérios e indicadores que contribuam para melhoria da qualidade e sanidade, agregação de valor e reposicionamento da castanha-da-amazônia no mercado. Uma das ações é a revisão da Portaria Mapa nº 846/1976, que estabelece parâmetros de classificação e padronização do produto.
“Estamos participando ativamente do Grupo de Trabalho SAQ-Castanha, coordenado pelo Observatório da Castanha-da-Amazônia (OCA), juntamente com outras instituições e apoiado pelos projetos NewCast e Bioeconomia e Cadeias de Valor (GIZ), em que iniciamos uma série de reuniões com atores da cadeia produtiva e visitas a agroindústrias para entender como as normas atuais são aplicadas na prática e se estão alinhadas com as realidades atuais da produção e processamento da castanha. Esse processo vai ser importante para uma compreensão ampla das operações locais e dos desafios enfrentados”, destaca a pesquisadora Lúcia Wadt.
Por sua vez, a partir do desenvolvimento de um sistema de produção da castanha-da-amazônia e baseado na tecnologia chamada “Castanha na Roça”, o projeto espera contribuir para a renovação e expansão dos castanhais e fortalecimento da base produtiva.
O Castanha na Roça é uma tecnologia de manejo da regeneração natural das castanheiras, plantadas pelas cutias, associado com o enriquecimento com mudas selecionadas de matrizes produtivas, para promover a renovação e expansão dos castanhais. “Por meio do NewCast esperamos dar escala a essa técnica que está se tornando cada vez mais urgente perante o cenário já estabelecido da crise climática, que está afetando as castanheiras mais velhas e a produção da castanha”, diz Guedes.
Finalmente, espera-se estabelecer uma base de dados de biodiversidade, biomassa e carbono associados à castanheira e aos castanhais nativos e plantados, que poderá subsidiar políticas públicas relacionadas ao mercado de carbono e pagamento por serviços ambientais. As castanheiras são árvores de porte majestoso, capazes de acumular grande quantidade de biomassa e carbono.
A pesquisadora Carolina Volkmer de Castilho, da Embrapa Roraima, detalha que a maioria dos estudos realizados em castanhais tem como foco as castanheiras e a produção de ouriços/castanhas devido à importância socioeconômica da espécie. De fato, estudo realizado com base em uma rede de parcelas permanentes indicou a castanheira como a terceira espécie de árvore que mais contribui para o estoque de carbono na Amazônia.
No entanto ela destaca que pouco se conhece sobre a biodiversidade presente nos castanhais, qual o potencial para exploração de outros produtos florestais não madeireiros e o potencial mitigador de mudança climática através de fluxos e estoques de carbono.
O projeto NewCast terá duração de três anos e conta com financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Fonte – Ascom
Foto – Divulgação