O período de final de ano é marcado por grandes eventos entre empresas, entre fornecedores e empresas, entre empresas e clientes ou até entre futuros clientes ou fornecedores que acabam promovendo festas e eventos como sinal de um bom relacionamento comercial.
A grande maioria das empresas promove uma festa de confraternização entre os empregados como forma de agradecimento pelos ótimos resultados atingidos, pelos prejuízos amenizados ou de forma a proporcionar maior interação entre os grupos de trabalho e também entre chefes e subordinados.
Nestas ocasiões, senão todos, a grande maioria dos empregados são convidados a participar, uns trabalhando para a promoção do evento, outros curtindo a festa com familiares ou mesmo sozinhos.
Uma dúvida comum é como se portar diante deste tipo de ambiente em que, amiúde, a comida e bebida são fartas e “de quebra”, não precisa pagar nada, mas o exagero na alimentação ou no consumo de bebidas alcoólicas pode desencadear um transtorno para a vida pessoal e profissional.
Há aqueles que não se importam com nada e acreditam que este momento é o do “descarrego”, seja por tudo que sofreu “na mão” do chefe, pelo aumento salarial que não teve ou pela promoção merecida que acabou não acontecendo. “Por tudo isso, hoje é minha vez, é o dia da desforra…deixe o whisky aqui do meu lado!!!”
Por outro lado há os que não gostariam nem de comparecer à festa, mas por conta de muita insistência de um colega, acaba se entregando ao apelo do amigo, muito embora ao longo de toda a festa, por medo ou vergonha, passa fome e sede e se manifesta verbalmente, no máximo, em duas oportunidades sendo, “boa noite” e “tchau”.
O ambiente de uma festa na empresa não é o mesmo ambiente de uma festa entre amigos da faculdade ou do futebol, são situações distintas que precisam ser compreendidas por quem as frequenta, pois ainda que se trate de um ambiente informal, seria sensato manter certa discrição na forma de se vestir, sentar, comer, beber e claro, conversar.
Usar um decote exagerado ou uma micro saia em que, ao se levantar para se servir, 100% da população pare de comer e passe a te observar desde o momento em que entra na fila até o seu final, pode demonstrar que algo está errado ou não condiz com o momento e ambiente.
Também poderá parecer estranho você tomar a bandeja do garçom e atravessar todo o salão para oferecer uma taça de champanhe ao seu chefe – ou pretendente – que está do outro lado do salão, insinuando na frente dos presentes que ele(a) é o(a) mais elegante e que se todos fossem como ele(a), a empresa seria mais competitiva e teria tido maior lucro no ano que se finda.
Você está “varado” de fome e finalmente anunciam que o jantar ou almoço será servido. Calma, tenha certeza que não se trata de uma competição e você não precisa sair correndo para devorar 4 pratos em 15 minutos. Saiba antecipadamente sobre o cardápio, não se preocupe em se servir mais de uma vez, mas sirva moderadamente.
Tentar compensar a falta de aumento em 2 pratos de comida também não é o melhor caminho para promover sua imagem perante a empresa. Se não conhece nem sua fome e gera um desperdício de alimento, cuidado que isso pode ser um requisito de avaliação de sua personalidade.
Há também os casos de paquera entre colegas de trabalho ou entre chefes e subordinados e a festa, pode ser uma oportunidade para tentar se aproximar mais da pessoa fora do ambiente formal do trabalho.
Mas cuidado, pensar que vocês dois foram contratados para uma cena de novela em plena festa, trocando beijos e carícias tão insinuantes que o garçom faça com que as taças de champanhe encontrem o chão, também pode ser péssimo para sua reputação. Converse discretamente e se for o caso, marque o que quer que seja para depois da festa.
Vai haver um momento de dança, de descontração para todos na festa. Independentemente se você, ainda que discretamente, exagerou na comida e se sente “empanzinado”, ou se ainda bebeu mais do que devia, não vá querer tirar tudo na dança. Reservar 2 metros quadrados só pelos movimentos dos braços e pernas demonstra que você não consegue administrar e respeitar o espaço dos outros, e isso pode ser interpretado em relação ao ambiente de trabalho.
Evite também mostrar tudo o que sabe sobre determinados ritmos com performances, por exemplo, de um personagem do filme “Embalos de Sábado a Noite” ou de uma dança de Funk.
Por óbvio que quaisquer das situações precisam ser ponderadas, pois se a bebida na festa é liberada, não há necessidade de ficar recusando, mas também não precisa andar com um copo em cada mão como se fosse a última festa de sua vida. É perfeitamente possível aproveitar a festa de forma controlada, respeitando seus limites.
Não é porque você está bebendo que irá ser considerado um alcoólatra, até porque certamente haverá mais pessoas bebendo também. Agora, se embriagar e querer ser o centro da festa pode passar uma péssima imagem aos colegas, chefes e diretores. Ninguém quer, nem você, ter na empresa uma pessoa que não conhece seus limites e não sabe se controlar.
Se surgir uma oportunidade e você deixar de conversar com um colega ou mesmo um chefe de outra área por vergonha ou medo, pode demonstrar desinteresse e passar uma má impressão. Se há algum receio e não quer ficar sozinho(a) para conversar com alguém, combine com um amigo(a) para conversarem juntos, assim um ou outro pode dar a “deixa” e a conversa fluir naturalmente.
O uso de decotes ou roupas muito curtas, assim como trajes extravagantes que não condiz com o ambiente são extremamente desaconselháveis. Se informe antes sobre os trajes sugeridos, converse com os amigos a respeito e tente usar peças mais apropriadas e que podem servir para a maioria das ocasiões.
O importante é não exagerar (para mais ou para menos) nas coisas, se mostrar descontraído, conversar com pessoas que ainda não conhece ou que mantém pouco contato no dia a dia na empresa, deixar de lado os problemas de trabalho e, se for o caso, evitar contato com colegas que gostam de provocações ou que vive semeando intrigas é o melhor caminho.
Trate desde a pessoa com o menor cargo na hierarquia da empresa até o Presidente com a mesma educação, seja simpático e busque, ao final da festa, ser lembrado positivamente, não como o primeiro a ser demitido na semana seguinte ou como o último a ser promovido, mas como alguém que contribui com a empresa, que respeita os colegas e que faz parte do grupo de pessoas que está comprometido com a companhia.
É prudente que o empregador tome o devido cuidado de modo a manter a urbanidade e intervir, caso necessário, nos casos em que a situação tende a sair do controle, pois fatos desagradáveis ocorridos em festas podem, inadvertidamente, ser levados para o ambiente de trabalho e ser um “contaminador” do clima organizacional.
Sergio Ferreira Pantaleão é Advogado, Administrador, responsável técnico pelo Guia Trabalhista e autor de obras na área trabalhista e Previdenciária.