Ciência e Tecnologia

Grupo da USP vai avaliar os efeitos do consumo alimentar do brasileiro ao longo do tempo

Com a disponibilização dos dados relativos às segunda e terceira ondas do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), o Grupo de Estudos Epidemiológicos e Inovação em Alimentação e Saúde (Geias) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP pretende, agora, estudar os efeitos do consumo alimentar ao longo do tempo. É o que explica, ao Jornal da USP, a professora da FSP e coordenadora do grupo, Dirce Marchioni.

Além disso, eles pretendem continuar com a investigação dos efeitos da Dieta de Saúde Planetária (proposta pela Comissão EAT-Lancet, da revista científica The Lancet), baseada em uma extensa revisão bibliográfica, com a intenção de ser promotora da saúde humana e do planeta. É composta, predominantemente, de produtos de origem vegetal, integrais, com pouca participação de carnes e carnes processadas.

“Números preliminares nos mostram que, quanto maior a adesão a essas recomendações, menores são os valores de pressão arterial, tanto sistólica quanto diastólica, de colesterol total e do colesterol não HDL”, antecipa Leandro Cacau, pesquisador do Geias.

O Elsa-Brasil é uma coorte (acompanhamento de longo prazo) iniciada em 2008 que investiga na população brasileira a incidência e fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares (acidente vascular cerebral, hipertensão, arteriosclerose, infarto, entre outras) e outras associadas. Participam do estudo cerca de 15 mil pessoas, de várias regiões do País, com idade entre 35 e 74 anos. Eles serão novamente convocados no próximo mês de agosto para entrevistas e exames que identifiquem uma possível evolução dos fatores de risco para essas doenças – que são consideradas a principal causa de mortalidade no Brasil e no mundo.

O grupo da FSP tem como foco o estudo de consumo alimentar em diversos ângulos, desde a ingestão de nutrientes (como magnésio), alimentos (como café) e indicadores de qualidade da alimentação. Desenvolve, também, métodos de aferição do consumo alimentar e investigam o desempenho desses métodos.

O trabalho mais recente da equipe foi publicado em novembro de 2021 na revista Nutrients. Com o objetivo de avaliar a adesão a uma dieta saudável e sustentável e a sua relação com a obesidade, Cacau, que é nutricionista de formação, usou dados da linha de base do Elsa-Brasil. Os resultados mostraram que, quanto mais se adere a esse tipo de alimentação, menores são os valores do Índice de Massa Corporal (IMC) e da circunferência da cintura (CC).

IMC é um parâmetro adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para estabelecer o peso ideal de cada pessoa. É calculado dividindo o peso do paciente pela sua altura elevada ao quadrado. Se o resultado for entre 18,5 e 24,9, diz-se que ela tem peso normal. Já a circunferência da cintura, a depender do tamanho, é um dado que deve ser tratado com atenção. A gordura que se acumula na região está associada ao aumento da mortalidade geral.

IMC é um parâmetro adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para estabelecer o peso ideal de cada pessoa. É calculado dividindo o peso do paciente pela sua altura elevada ao quadrado. Se o resultado for entre 18,5 e 24,9, diz-se que ela tem peso normal. Já a circunferência da cintura, a depender do tamanho, é um dado que deve ser tratado com atenção. A gordura que se acumula na região está associada ao aumento da mortalidade geral.

Na pesquisa realizada por Cacau, as pessoas que atingiram PHDI mais altos eram idosos, se autodeclararam brancos ou de outras raças, não fumantes e tinham alta renda per capita. Além disso, não faziam uso excessivo de álcool, praticavam níveis elevados de atividade física, eram diabéticos e hipertensos.

O estudo mostrou, ainda, que pessoas com os maiores escores de PHDI tinham 24% menos chances de estarem acima do peso ou de serem obesas.

“O ineditismo do nosso trabalho está em utilizar um indicador baseado em uma dieta saudável e sustentável para relacionar com obesidade, que é considerada uma pandemia e um dos mais importantes problemas de saúde pública da atualidade”, comenta Dirce. “É um tema extremamente atual, que tem estado cada vez mais em pauta ao abordar o conceito de One Health, ou seja, a saúde humana e do planeta.”

Saúde e ambiente interligados
Antes de ser usado neste estudo, o PHDI foi testado em diferentes estratégias. Em um dos estudos, que deu origem a um outro artigo científico, o PHDI foi aplicado para avaliar hábitos alimentares de mais de 46 mil brasileiros.

A amostragem utilizada vem do Inquérito Nacional de Alimentação (INA) realizado junto à Pesquisa de Orçamentos Familiares (INA/POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é apoiado pelo Ministério da Saúde. O INA avalia o consumo alimentar individual das famílias brasileiras sorteadas para participarem da POF entre os anos de 2017 e 2018.

Os resultados mostraram que a população brasileira atinge apenas cerca de 30% das recomendações para uma dieta saudável e sustentável proposta pela Comissão EAT-Lancet. Quando avaliadas por regiões geográficas, a região Sudeste atinge cerca de 32%, enquanto a região Nordeste atinge cerca de 29%.

As mulheres possuem maior adesão a uma dieta saudável e sustentável, o mesmo acontece para os brasileiros com idade acima de 31 anos. Brasileiros com maior renda per capita também possuem maior adesão a essa dieta, junto dos brasileiros que vivem em áreas urbanas.

Os principais grupos alimentares que merecem atenção são os alimentos de origem animal (carne vermelha, laticínios, frango e outras aves, ovos), que foram baixos entre a população brasileira, indicando elevado consumo. Por outro lado, os cereais integrais e oleaginosas tiveram as menores pontuações, indicando consumo aquém do recomendado.

Trabalho no exterior

O pesquisador está, atualmente, na Bélgica, para fazer uma parte do seu doutorado-sanduíche. Lá ele conduz um trabalho que quer avaliar a adesão do público adolescente baseada na Dieta de Saúde Planetária. “Estamos trabalhando com dados de dez cidades da Europa e em breve teremos mais dados para publicar”, anima-se.

 

Fonte – USP

Foto – Divulgação

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