Inpa completa 35 anos de pesquisa e auxílio nos casos de tuberculose de difícil diagnóstico
Há mais de três décadas dedicados à pesquisa de tuberculose, o Laboratório de Micobacteriologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), em parceria com outras instituições regionais, auxilia no diagnóstico de casos suspeitos de tuberculose ou micobacteriose.
A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões. Ela tem cura e o tratamento dura no mínimo seis meses. Em crianças, a principal maneira de prevenir a doença é com a vacina BCG (Bacillus Calmette-Guérin), ofertada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Dia 24 de março é o Dia Mundial de Combate à Tuberculose.
Grave problema de saúde pública mundial, a tuberculose matou mais de milhão de pessoas em 2015, sendo a doença infecciosa de maior mortalidade no mundo, superando o HIV e a malária juntos. De acordo com o Boletim Epidemiológico (2017), do Ministério da Saúde, Manaus lidera o ranking do coeficiente de incidência de tuberculose entre as capitais brasileiras, com 93,2 casos novos da doença por 100 mil habitantes, o que representa quase o triplo de incidência do Brasil (32.4/100 mil hab.) e mais que o dobro do Amazonas (67,2/100 mil hab.)
Líder do Laboratório de Micobacteriologia, o pesquisador doutor Mauricio Ogusku explica que um dos parceiros é a Policlínica Cardoso Fontes, um centro de referência no tratamento de tuberculose no Amazonas. Na policlínica, os pacientes são convidados a participar dos estudos do laboratório e instituições parceiras.
O trabalho desenvolvido pelo Laboratório, recentemente, teve seu reconhecimento com a entrega de um troféu do Comitê de Controle da Tuberculose no Amazonas e do Prêmio Enfermeira Miracy Vasconcelos Guimarães pela Fundação de Vigilância Sanitária (FVS).
“As premiações refletem o reconhecimento das pesquisas realizadas pelo Laboratório de Micobacteriologia, bem como a dedicação ao trabalho dos técnicos, pós-graduandos, graduandos, estagiários e pesquisadores, em especial, da Dra. Julia Ignez Salem”, destaca Ogusku.
Para realizar os trabalhos, o Laboratório conta com uma equipe de servidores e de alunos envolvidos. “Este trabalho não é recente e vem desde a fundação do Laboratório pela pesquisadora Julia Salem, no início da década de 80. Foi ela quem começou os trabalhos, e eu procuro seguir a filosofia dela, que é pesquisar tuberculose dando retorno à sociedade, aos pacientes que necessitam”.
Início
As pesquisas no Laboratório de Micobacteriologia foram iniciadas em 1982, devido à alta incidência da tuberculose na região amazônica. Nesse início, o Laboratório tinha por objetivo a geração de conhecimentos sobre as espécies do gênero Mycobacterium, com ênfase nas espécies do Complexo Mycobacterium tuberculosis.
O pesquisador Mauricio Ogusku conta que os primeiros estudos do Laboratório estavam relacionados com a tuberculose cutânea, por haver vários pacientes com lesões/úlceras de pele suspeitas de serem provocadas pelo M. tuberculosis, o que era um fato raro em outras regiões do Brasil.
A implantação do Laboratório de Micobacteriologia do Inpa contou com o auxílio e reconhecimento de dois pesquisadores importantes: o Dr. Hugo Aires Lopes David, do Instituto Pasteur de Paris, e o Dr. José Alberto Nunes de Melo, vice-diretor do Inpa, na época.
Estudos
De acordo com Ogusku, a partir dos estudos realizados no Laboratório de Micobacteriologia foi possível estabelecer novos métodos de coloração para visualização de micobactérias; a confirmação da alta incidência de tuberculose cutânea; a detecção de outras espécies de micobactérias responsáveis por extensas lesões de pele, mas que não se desenvolviam em meios de cultivo.
Dentre as pesquisas voltadas para a tuberculose pulmonar, destacaram-se o isolamento de espécies de micobactérias no trato respiratório, as quais nunca haviam sido relatadas no Brasil; a introdução da técnica de baciloscopia pós-concentração que ampliou a sensibilidade do diagnóstico em quatro vezes.
Pioneirismo
O laboratório também foi pioneiro no Amazonas ao investigar a presença de M. tuberculosis resistente aos antibióticos utilizados nos esquemas de tratamento da tuberculose.
Também foi elaborada uma técnica alternativa para o isolamento de M. tuberculosis, mais simples e de menor custo, que pode ser utilizada em amostras de escarros de pacientes com baixa concentração de bacilos, sob suspeita de Tuberculose pulmonar. Esta técnica foi denominada “PKO concentrado”, uma homenagem aos pesquisadores Petroff, Kudoh e Ogawa.
Atualmente, técnicas de biologia molecular como PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) convencional, PCR em tempo real e sequenciamento de DNA também têm sido utilizadas nos estudos sobre diagnóstico, marcadores moleculares associados à resistência de M. tuberculosis aos antibióticos, bem como nos estudos imunogenéticos na população amazonense.
“Todos estes estudos tiveram, e ainda têm, um alcance social muito importante junto à população amazonense, já que muitos casos de tuberculose pulmonar, extrapulmonar ou de Micobacterioses (doenças causadas por espécies de micobactérias, diferentes de M. tuberculosis e M. leprae), de difícil diagnóstico, têm sido realizados”, conta Ogusku.
Segundo ele, esta é uma missão que o laboratório tem desempenhado desde que foi implantado no Inpa, pela pesquisadora Dra. Julia Ignez Salem, e que tem sido mantido desde sua aposentadoria em 2011.
Grupo de Pesquisa
Hoje, o Grupo de Pesquisa Micobactérias de Fungos da Amazônia é composto por Maurício Morishi Ogusku (pesquisador do Laboratório de Micobacteriologia), e João Vicente Braga de Souza, tecnologista do Laboratório de Micologia, além de seis técnicos, 14 pesquisadores de instituições parceiras e 37 estudantes (iniciação científica, mestrado e doutorado).
Orientações
Atualmente, o Laboratório está colaborando em duas dissertações de mestrado da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Um dos estudos é para avaliar se alterações em genes que codificam inflamassomas (complexos proteícos intracelulares), a primeira linha defesa contra patógenos, podem resultar em diferentes respostas na tuberculose. Neste estudo, Ogusku é co-orientador da dissertação. O outro estudo é para detecção automatizada de micobactérias em lâminas de microscopia, por meio de uso de algoritmos de análise de imagens.
Parcerias
Para Ogusku as parcerias são importantes, pois muitos estudos requerem o compartilhamento de laboratórios, equipamentos ou insumos. “Mas, também importante, é o compartilhamento de conhecimentos, ideias e experiências, que enriquecem as pesquisas”, destaca.
São parceiros do Laboratório de Micobacteriologia do Inpa, a Ufam, com a professora Dra. Aya Sadahiro (Laboratório de Imunologia Molecular/ICB), com os estudos imunogenéticos e tuberculose, ou seja, a pesquisa de fatores genéticos que podem estar associados com a predisposição em desenvolver ou não a tuberculose da população do Amazonas; a Dra. Luciana Botinelly Mendonça Fujimoto (Departamento de Patologia e Medicina Legal/Faculdade de Medicina/Ufam), nos estudos de diagnóstico da tuberculose cutâneae corantes fluorescentes para microscopia a partir de recursos naturais da Amazônia.
Também mantém parceria com a Dra. Marly Guimarães F. Costa e Dr. Cícero Ferreira F. Costa Filho (Centro de P&D em Tecnologia Eletrônica e da Informação – CETELI/Ufam), na detecção automática de micobactérias em lâminas de baciloscopia.
Além da Ufam, o Laboratorio Micobacteriologia do Inpa mantém parceria com a Fiocruz Amazônia, com o pesquisador Dr. Felipe Gomes Naveca, nos estudos de sequenciamento de genes associados à resistência de M. tuberculosis aos antibióticos Isoniazida e Rifampicina; e a Policlínica Cardoso Fontes/SUSAM), com as pesquisadoras Dra. Irineide Assumpção Antunes e Dra. Joycenéa da Silva Matsuda com os estudos sobre diagnóstico da tuberculose e micobacteriose, tuberculose multidroga resistente.
Fonte – Inpa