Já existe um selo nacional para o queijo artesanal
O episódio da apreensão de 160 quilos de queijo e linguiça, no estande da chef Roberta Sudbrack, na madrugada de 16 de setembro, durante o Rock in Rio, abriu ao país inteiro um debate até então restrito ao microcosmo dos cozinheiros da alta gastronomia e dos produtores agroartesanais da linha gourmet. Eis a questão central da polêmica que veio à tona: por que as certificações das inspeções sanitárias estaduais de Pernambuco e de São Paulo, dadas respectivamente ao queijo e a linguiça, não incluíam o direito de comercializar esses produtos no Rio?
Passou-se a alardear que faltava ao país um selo por meio do qual tanto a linguiça quanto o queijo de uma pequena agroindústria pudessem transitar além das fronteiras do seu próprio município e Estado. No bojo das indignações manifestadas principalmente pela internet, rádio e televisão, dizia-se que somente o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) dava direito à irrestrita circulação e comercialização de produtos agroindustriais, em todo o Brasil.
Argumentava-se, ainda, que o selo SIF cabia apenas no figurino da grande indústria, sobretudo a dos conglomerados de laticínios e carnes, em razão da exigência de equipamentos automatizados e de instalações físicas espaçosas, que, por conseguinte, requeriam altos investimentos. Em meio à polêmica, a conclusão predominante era a de que a agroindústria familiar, artesanal e de pequena escala estava alijada do mercado interestadual e nacional, uma vez que não dispunha do selo de livre circulação e comercialização, condição esta só concedida aos grupos exportadores.
Uma semana após a apreensão dos queijos e das linguiças pelos fiscais da vigilância sanitária, estampou- se na edição do jornal O Globo de 23 de setembro o artigo do presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci, conclamando o país a um debate com menos calor e mais luz. Ou seja: reunir as partes interessadas para que façam o diagnóstico, localizem os nós do problema e, depois, construam o consenso para desatá-los.
Foi assim – assinalou ele no artigo do Globo – que as lideranças da Abrasel empenharam-se para levar adiante o debate em torno da gorjeta e do trabalho intermitente, em fóruns, audiências públicas, negociações com sindicatos e encontros com autoridades do mundo oficial. Mais uma vez, a entidade, como disse Paulo Solmucci à revista Bares & Restaurantes, opta agora pelo caminho da construção de rumos para o país, saindo do labirinto da vitimização.
Um mês após a veiculação do artigo no Globo, Solmucci recebeu o convite do presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, para ser um dos palestrantes no evento dos 45 anos da instituição, a ser comemorado em abril de 2018, abordando o tema “Avanços e desafios para garantir a segurança dos alimentos no setor de bares e restaurantes”. O que ele dirá ao público reunido pela Embrapa é que, em 2006, portanto há 12 anos, foi regulamentado um selo nacional de certificação sanitária para a pequena agroindústria de produtos de origem animal, que pode ser obtido no município onde a empresa está localizada.
“Esse selo não teve, pode-se dizer assim, nenhuma divulgação. Alguns souberam dele quase que por acaso, esbarrando na informação transmitida por um interlocutor da área de inspeção. E quando alguém escutou alguma coisa a respeito do selo, a informação certamente veio incompleta, e, por isso mesmo, de forma obscura. Daí por que somos todos inocentes: a chef, que levou os queijos e as linguiças ao Rock in Rio, e o público que criticou asperamente a apreensão dos produtos. O queijo, foi adquirido no interior de Pernambuco, e a linguiça no interior de São Paulo”, disse o presidente-executivo da Abrasel.
O selo tem a marca do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA). Apenas 34 dos 5,57 mil municípios brasileiros aderiram a ele. Ou seja: 0,6%. Apenas 10 das 27 unidades da Federação aderiram a ele. Ou seja: 37%. Pernambuco, de onde veio o queijo, e São Paulo, de onde vieram as linguiças, ainda estão fora do SISBI-POA.
Fonte – Abrasel