Cultura

Livro sugere novas formas de produzir notícias na América Latina

“Ser latino-americano é mais do que um limite geográfico ou uma delimitação linguística, é um posicionamento geopolítico”, defende o pesquisador Alexandre Barbosa, do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Comunicação e Cultura da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Seu livro, Por Uma Teoria Latino-Americana e Decolonial do Jornalismo, será lançado nesta quinta-feira, dia 31, às 16 horas, no Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA.

O evento é organizado pela empresa Jornalismo Júnior, vinculada ao curso de Jornalismo da ECA. Além de Barbosa, a estudante Aldrey Olegario, que fez as ilustrações do livro, e as jornalistas Karla Burgoa e Claudia Alexandre estarão presentes para uma discussão sobre a decolonialidade no jornalismo. Karla é jornalista boliviana e potiguar e criadora do podcast Quipus, que trata da cultura dos povos andinos. Já Claudia é jornalista e pesquisadora de religiões de matriz africana e tradições afro-brasileiras.

O livro é fruto das pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doutorado de Barbosa. O pesquisador propõe uma atualização da teoria do jornalismo com novos critérios de noticiabilidade. Isto é, novas formas de produzir notícias, que não sejam feitas a partir da ótica hegemônica dos tradicionais centros de poder.

Barbosa diagnostica a “solidão” da América Latina na indústria jornalística. Segundo ele, a falta de representatividade acontece de forma quantitativa e qualitativa: há pouco espaço e, quando ele existe, a região é enquadrada de forma exótica e subalternizada. O professor defende que novas categorias de seleção e construção de notícias sejam elaboradas, porque “a régua que mede o que deve se tornar notícia tem parâmetros norte-americanos e europeus”.

A primeira dessas categorias é entender a América Latina como mais do que uma reunião de países com línguas de origem latina. Para o pesquisador, ela é uma região com características históricas, econômicas e geopolíticas semelhantes. O termo vai além de países que falam português e espanhol. São nações marcadas pelo colonialismo e que estão na periferia do capitalismo, explica Barbosa.

Jamaica e Santa Lúcia, por exemplo, são países africanos cujo idioma oficial é o inglês, mas são marcados pelo colonialismo e fazem parte da América Latina, de acordo com o professor. O segundo critério é valorizar a cultura popular latino-americana. “Para que não se defina como cultura só a norte-americana ou a europeia, precisamos valorizar as culturas dos povos originários e as de matriz africana”, afirma.

Em terceiro lugar, é preciso considerar vozes e fontes que costumam ser silenciadas, como a população LGBTQIA+, como aponta Barbosa. O pesquisador diz que repensar os critérios de noticiabilidade é desafiador, porque a indústria jornalística tende a priorizar índices de audiência e fatores econômicos e utilizar critérios consensuais, em vez de refazer as pautas.

“A América Latina já é bem representada na mídia alternativa, mas a indústria jornalística também precisa entender que essas pautas são relevantes”, argumenta. Barbosa descreve o cenário atual como pressionado por movimentos sociais para que essa cobertura seja feita, mas a mudança ocorre de forma vagarosa.

O posicionamento do jornalista diante do trabalho também é importante. Barbosa defende que os profissionais devem se reconhecer como latino-americanos. “Existe a imagem errônea de que o País não é latino e a gente se sente assim, porque conhecemos pouco a cultura e não estudamos a região.”

Segundo o pesquisador, as condições brasileiras são semelhantes às dos países vizinhos: o País tem profundas marcas de racismo, machismo, mandonismo e clientelismo. O primeiro passo para reverter essa falta de identificação está na educação básica e no contato com a literatura da região e, depois, na cobertura jornalística, acrescenta.

“Se a história latino-americana e seus produtos culturais fossem apresentados desde a educação básica, o público demandaria essas pautas”, diz o pesquisador. Para ele, o ensino superior também precisa dar condições para os futuros jornalistas entenderem a América Latina. O jornal-laboratório Revista Babel, uma das disciplinas lecionadas por Barbosa, é utilizado como exemplo, já que os estudantes fizeram matérias sobre a região na edição de julho.

O lançamento do livro Por Uma Teoria Latino-Americana e Decolonial do Jornalismo, de Alexandre Barbosa, acontece nesta quinta-feira, dia 31, às 16 horas, na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP (Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações estão disponíveis no site da empresa Jornalismo Júnior da ECA na plataforma Instagram.

 

Fonte – USP

Foto – Divulgação

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