Não costuma faltar açaí na mesa da família Brasil-Lobato, moradora do Projeto de Assentamento Agroextrativista (Paex) Alto Camarapi, na Gleba Alto Camapari, em Portel, no arquipélago do Marajó. Entretanto, o que Leandro, 37 anos, e Maria Inês, 46 anos, colhem nos cerca de quatro hectares de área nativa do Sítio LD, na margem direita do rio Camarapi, por ora é suficiente apenas para o consumo do casal e dos dois filhos dela e enteados dele: Elvis, 12 anos, e Ingrid, 10 anos.
“Ainda não conseguimos calcular nem quantos pés temos, é tudo nativo, e nem qual é a produtividade, porque agora que vamos começar a pensar como comercialização de verdade. Os próximos passos são organização da produção, medição”, explica Maria Inês Brasil, que também é professora do 1º Ciclo em uma escola pública tipicamente amazônica, sobre palafita, dentro de um igarapé.
“Aqui a gente tenta integrar os conhecimentos científico e popular. Meus filhos vão para a escola dos bancos e para a escola da floresta. Pegam no livro e pegam na peconha. Uma coisa não exclui e nem anula a outra, só melhora e aperfeiçoa. Somos extrativistas cada vez mais em busca de conhecimento e prontos para oferecer conhecimento”, detalha.
Capacitação
A propriedade da família é uma das bases de um projeto piloto de manejo do açaí executado pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) no assentamento estadual.
O objetivo é que, com capacitação e acompanhamento, estratégias como espaçamento adequado e seleção de espécies para exclusão e desbaste de touceiras resultem, já ano que vem, em aumento significativo de produtividade.
“Ano a ano, a expectativa é que tripliquemos ou mais os números atuais”, estima o chefe do escritório local da Emater em Portel, o técnico em agropecuária Jocimar Mendonça.
De acordo com Mendonça, o manejo é uma tecnologia bastante acessível para o agricultor familiar marajoara. “Os EPIs [equipamentos de proteção individuais], como facão e luvas, são comuns na dinâmica das propriedades e as informações integram difusão científica e conhecimento ancestral, fora o impacto no ecossistema acabar mínimo”, explica.
Teoria e Prática
Ao longo deste segundo semestre, com o apoio da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Alto Camarapi (Atagrocamp), a Emater tem mobilizado e orientado pelo menos 60 famílias de duas comunidades da região, Aparecida e São Pedro.
Além de demonstrações técnicas sobre manejo em si, há esclarecimento e encaminhamento sobre crédito rural, sistemas agroflorestais, tratos culturais e mercados.
“É um ganho real para a agricultura. Aumentando a produção e qualificando o produto, temos chance de empreender com lucro e sustentabilidade, sem descolar das tradições”, aponta o gestor da Emater.
Fonte – Emater
Foto – Divulgação