Cultura

Movimento Tropicalista ressignificou características brasileiras

Com ideais de nação, o Tropicalismo, ou Tropicália, foi um movimento que embalou artistas brasileiros em diferentes setores. Embora a música possa ser o mais conhecido entre eles, as artes plásticas e literárias também sofreram influências. Hélio Oiticica na pintura e Glauber Rocha no cinema são exemplos de artistas influenciados pela Tropicália fora da música.

A busca desses artistas por ressignificação de características brasileiras, por vezes consideradas razão de atraso para o País, integra as pesquisas de Rafael Marino na tese Da Tropicália à Verdade Tropical: um estudo sobre as ideias político-culturais do Tropicalismo. O doutorado é desenvolvido no Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, em São Paulo. A previsão é de que a pesquisa seja defendida no primeiro semestre de 2023.

Em conversa com o Ciclo22, o pesquisador falou sobre ideias nacionalistas por trás do movimento artístico e de que maneira alguns artistas demonstraram tal influência em suas produções.

A política na cultura

A Tropicália ficou conhecida no país por ter entre seus representantes artistas musicais como Caetano Veloso. Para Marino, o cantor é, inclusive, um dos artistas que mais representam as ideias políticas por trás do movimento.

Foi durante o período de exílio, entre 1969 e 1971, fugindo da repressão imposta pela ditadura militar que o cantor desenvolveu maneiras de ressignificar “brasilidades”. As características exaltadas na música destacam a miscigenação e uma maior sociabilidade do povo brasileiro comparada a outros povos, muito mais tecnicistas na visão do cantor. A lusofonia é outra das características que tornam o País peculiar e diferente dos demais para tropicalistas como Caetano.

“Ele [Caetano Veloso] vai dizer que o Brasil é como se fosse uma espécie de farol para mostrar que o mundo não precisa ser materialista, não precisa ser mecânico. Ele pode ser ideal e sensual”, comentou Rafael Marino.

Para firmar, então, a ideia fixa de nação, os artistas do movimento usaram de diversos símbolos nacionais. Características sobre o clima e as frutas tropicais, como a banana, por exemplo, foram fortemente exploradas como símbolos de riqueza do País, disse o pesquisador.

Para ele, a cultura é uma boa forma de entender o pensamento político de um país. Por vezes, as paixões políticas se traduzem mais nas artes que na contagem de votos, conforme defendeu.

“Dentro desse estudo do Tropicalismo há um arcabouço de imagens, ideias e discursos que a gente pode chamar de tropicalidade. É quase um orientalismo que moveu e move muitos agentes e estados, inclusive a própria construção do Brasil enquanto Estado Nacional independente”, destacou o pesquisador.

Dentro das diversidades de paisagens e constituição do povo, mostra o estudo de Marino, os tropicalistas encontraram características únicas que definiram o território como nação.

O pesquisador e a pesquisa

Rafael Marino é cientista político e animador cultural no Sesc (Serviço Social do Comércio). Além de analisar fontes bibliográficas e documentos, o pesquisador explora materiais como cartas que mostram o contexto vivido pelos artistas que fizeram parte do Tropicalismo.

Por meio do seu estudo, ele busca encontrar diferentes maneiras de olhar para o comportamento político. “Quando você junta cultura e política para fazer um estudo, isso dá um sentido interessante para as coisas. Você consegue enxergar a longo prazo e consegue ter uma possibilidade de estudo comparado de ideias de comportamento político”, afirmou.

 

Fonte – USP

Foto – Divulgação

 

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