Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, o número de pessoas afetadas pela fome no mundo aumenta progressiva e constantemente desde 2014. A Organização alerta, ainda, que será necessário aumentar a produção de alimentos em 50% nos próximos 15 anos para acompanhar o crescimento da população global. Com os efeitos das mudanças climáticas diminuindo ainda mais nossos recursos naturais, alimentar a crescente população mundial é um dos desafios mais prementes do século XXI.
Devido aos recentes avanços na genômica e bioinformática do trigo, uma mudança de paradigma está ocorrendo na recuperação desse alimento com potencial para aumentar sua produtividade e causar um impacto significativo na segurança alimentar global. Em descoberta científica marcante, uma equipe de cientistas internacionais sequenciou com sucesso os genomas de 15 variedades do trigo.
O Prof. Assaf Distelfeld, chefe do Institute of Evolution, da Universidade de Haifa foi membro do 10- Genome Project, uma equipe de 95 cientistas cuja recente conquista foi publicada na Nature. “Há apenas alguns anos, a ideia de sequenciar o genoma do trigo era considerada ficção científica”, explica o Prof. Distelfeld. “O trigo tem um dos genomas mais complexos – cinco vezes maior que o DNA humano. Nossas descobertas ajudarão a identificar e manipular genes específicos para características úteis, como tolerância à seca, resistência às doenças de culturas ou melhor qualidade de grãos. Saber quais genomas de trigo têm ‘melhor desempenho’ será fundamental no desenvolvimento de variedades mais produtivas e eficientes em recursos desta cultura.”
O Prof. Distelfeld foi recentemente recrutado para dirigir o Institute of Evolution, o prestigioso centro de excelência da Universidade de Haifa que estuda a biodiversidade e a evolução de uma perspectiva interdisciplinar. O Banco de Genes de Cereais Selvagens do Instituto mantém coleções de cereais de trigo selvagem e cevada selvagem de Israel e de outras regiões do Crescente Fértil, que são o centro de origem e diversidade do trigo e da cevada selvagens, os ancestrais do trigo e da cevada cultivados.
O Gene Bank visa descobrir e isolar genes valiosos que foram “deixados para trás” durante 10.000 anos de domesticação. O Wild Cereal Gene Bank Project utiliza tecnologias avançadas de genoma de plantas para acelerar a pesquisa de sequenciamento. Novas instalações de estufas estão atualmente em construção graças ao generoso apoio de amigos de longa data da Universidade de Haifa, Sir Mick Davis e Prof. Alfred Tauber, Presidente Emérito do Conselho de Governadores.
Em entrevista com a nutricionista Poliana Scarcella, com o aumento da população mundial, a tendência é que haja uma maior demanda por esse grão e o estudo em questão é de grande importância ao trazer as bases que possibilitam a produção de grãos mais resistentes às mudanças climáticas, doenças e pragas, com maior qualidade e produção, com menos perdas e em maiores quantidades.
Segundo Poliana, o trigo tem como seu principal componente o carboidrato, fazendo dele um alimento energético que é ideal para o funcionamento do organismo. “Alguns alimentos à base de trigo podem ser utilizados como fonte de proteína. É o caso do Seitan, um alimento que substitui a proteína animal, feito a partir do trigo e água, em que se retira o amido e se mantém a proteína do glúten. Ele é rico em proteínas e ferro e é bastante utilizado na culinária vegana”, explica.
A nutricionista também ressalta que a produção de proteína animal contribui com a emissão de gases de efeito estufa, faz uso intenso de recursos hídricos e de grandes extensões de terra com impacto na biodiversidade. “A diminuição do consumo de carne e aumento do uso de opções ricas em proteína de origem vegetal, como é o caso do Seitan, podem garantir a segurança alimentar e nutricional das populações atuais e para as futuras gerações”, conclui.
Fonte – Dino
Foto – Divulgação