No final de novembro do ano passado tive o prazer de participar da banca examinadora do projeto “O futuro é velho” – Websérie de seis capítulos sobre o processo de envelhecimento e velhices plurais, de Beatriz Moraes Olivetti, Maria Eugênia Correia Batista, Thays Grigoletto Pires de Avila e Marina Emily da Silva (única de RTVI) e sob a orientação do professor Luis Mauro Sá Martino. Trata-se de um trabalho experimental de conclusão de curso de graduação em Jornalismo, de quatro alunas da Faculdade Cásper Líbero (SP) que tem entre sua grande missão, “fomentar questões relevantes para o desenvolvimento da prática jornalística e da pesquisa acadêmica”.
O prazer foi imenso, primeiro pelo tema em si, segundo por poder estar em uma sala de aula com estudantes de carne e osso junto a seus familiares, todos mascarados, claro, após cerca dois anos de confinamento e distanciamento físico, e, terceiro, perceber como o Portal do Envelhecimento vem cumprido seu papel na disseminação de saberes qualificados sobre esta nossa cada vez mais larga existência, ao ser fonte fundamental para o trabalho sério dessas jovens jornalistas.
Logo na introdução do Relatório Final submetido à banca examinadora, consta o que as motivou a produzir a websérie, ou seja, perceberam um medo recorrente da sociedade em relação ao envelhecer. Por isso decidiram pesquisar e entender o porquê desse fenômeno, por considerarem ser “uma forma de violência contra nós mesmos”. A websérie procura então ouvir as pessoas e “resgatar a humanidade de quem está colocado em uma posição de vulnerabilidade pela sociedade”, cumprindo assim ao que veio: retratar diferentes realidades, vivências e velhices plurais.
Com isso conseguem desmistificar o tabu que é envelhecer – um processo natural e inevitável. Mostram, por meio de seus entrevistados de diferentes realidades sociais e econômicas, que não existem motivos para temer uma fase de nossa vida e que o jeito como lidamos hoje com ela reflete nas gerações futuras positiva ou negativamente.
Os episódios
Foram produzidos ao todo seis episódios. Cada um tratando de um tema que envolve questões desta fase do processo de envelhecimento a partir das vozes de diferentes personagens, de escuta a profissionais acrescidos de dados e informações, assim como recorrendo a teorias científicas, estudos, artigos, entre outros materiais, tentando responder as seguintes questões: qual origem do preconceito? A sociedade desistiu dos idosos? Por que os silenciamos? O envelhecimento é diferente para homens e mulheres? Todos os idosos querem parar de trabalhar? O que é envelhecer?
O mais interessante desta websérie de 6 episódios que está no youtube é que ela busca atingir e conscientizar jovens a respeito dos processos relacionados ao envelhecimento. Afinal, pesquisas apontam a grande quantidade de jovens que utilizam internet e redes sociais. Por isso o conteúdo produzido está voltado para jovens que buscam maiores esclarecimentos ou tenham dúvidas sobre esta etapa da vida.
Por acreditarem que uma discussão é capaz de puxar a outra, as jovens jornalistas conseguiram gerar uma discussão profunda a respeito do envelhecer, como se pode perceber nos conteúdos tratados em cada episódio, a saber:
Episódio um
O primeiro da série é chamado de “Tantas velhices quanto velhos” e tem como missão introduzir o projeto com um todo. É um episódio chamativo e busca cativar o público a respeito do tema a ser detalhado nos demais. Neste episódio, abordam como é a representação geral dos idosos na mídia e como isso afeta a visão que outras gerações têm sobre eles. Buscam trazer opiniões dessas outras gerações nesse episódio, assim como a dos próprios idosos que ajudam a entender mais sobre o grande questionamento: “Afinal, o que é envelhecer?”
Episódio dois
Ao buscarem responder os questionamentos feitos no episódio um, o título escolhido do episódio dois é “O que é envelhecer?”. Neste episódio há um mergulho aos conceitos, sejam eles técnicos ou baseados nas experiências pessoais de cada um dos entrevistados. Muitas das respostas impactaram o grupo, emocionaram e as levaram a uma reflexão. Era um dos objetivos que elas queriam ao abordar e escolher essa temática para o episódio dois. Que o público passe a conhecer o conceito de velhices plurais através dos diferentes pontos de vista dos entrevistados. Neste episódio foi abordado a dificuldade de autoaceitação e também foi trazida a visão de grupos ainda mais marginalizados pela sociedade com o tópico de velhice LGBTQIA +. Ao final, o episódio traz luz às mudanças físicas e os impactos na vida da população idosa.
Episódio três
Chamado “Eu tô velho, mas ela tá velha”, busca retratar as diferenças de atitudes e tratamento entre as velhices femininas e masculinas. Aborda também conceitos como a autoestima, pressão estética, sexualidade e outros tabus que envolvem as questões de gênero. Esse tema foi escolhido por se ter consciência de que se vive numa sociedade guiada por conceitos machistas e patriarcais, que afetam a vida de mulheres em diversas fases. Na velhice não seria diferente. Para isso, o grupo buscou ouvir histórias de mulheres que sofrem com preconceitos etários e sentem que parte disso acontece por serem mulheres velhas. Especialistas também foram ouvidos, muitos colaboradores do Portal do Envelhecimento, que deram uma visão mais conceitual sobre o assunto, do ponto de vista psicológico e social.
Episódio quatro
O episódio quatro é chamado “Máquinas do tempo” e nele o grupo buscou retratar a relação entre envelhecimento e o mercado de trabalho. Durante o processo de pesquisa, apuração e entrevistas, esse se mostrou um tema bastante delicado. Isso porque, dentro de uma sociedade de produção capitalista, a capacidade de trabalho e geração de capital está diretamente ligada a aspectos psicológicos como o pertencimento, a autoestima e a produtividade. Para trabalhar o tema, dados de pesquisas do IBGE foram incorporados para ilustrar o cenário atual do Brasil e como os especialistas em mercado de trabalho avaliam conceitos como etarismo, economia prateada e a aposentadoria compulsória. Além da opinião de especialistas e estudiosos, alguns entrevistados foram convidados a falar sobre isso na prática.
Episódio cinco
O episódio cinco é chamado “A sociedade esqueceu dos idosos?” e foi, de longe, segundo o grupo, uma das temáticas mais difíceis de serem trabalhadas. Aqui também foram incorporados dados do IBGE para ilustrar sobre o cenário da população brasileira e falar sobre o aumento da expectativa de vida no país. Com isso, introduziu-se temáticas muito sérias como a necessidade de melhoria nas políticas públicas para a pessoa idosa. Será que os direitos dessas pessoas estão sendo respeitados? Esse é o episódio onde mais se falou sobre questões relacionadas à saúde mental, abandono e infantilização da pessoa idosa. O grupo acredita que esse seja o episódio que traz o maior incômodo por se tratar de tópicos delicados, mas que precisam ser discutidos.
Episódio seis
O último episódio traz no seu título o nome do projeto inteiro: “O futuro é velho”. Aqui o grupo teve o desafio de concluir tudo o que foi passado até então pelos entrevistados, especialistas e referências teóricas. Mas perguntam, será que é possível chegar a alguma conclusão?
Assistam os episódios no canal do Youtube:


Fonte – Portal do Envelhecimento
Foto – Divulgação




