‘O mendigo ou O cão morto’ tem última apresentação da temporada no Largo de São Sebastião em Manaus
As escadarias do Teatro Amazonas recebem a última apresentação da atual temporada do espetáculo de teatro de rua “O mendigo ou O cão morto”, nesta sexta-feira (26/01), às 17h. A produção do Grupo CriAttor de Teatro é baseada na obra de Bertolt Brecht e retrata o diálogo entre um imperador recém-chegado de uma guerra vitoriosa e um mendigo cego, às portas do palácio do reino.
A apresentação é gratuita e voltada ao público em geral, contando com o apoio do Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (SEC), dentro da agenda do programa Espaço Aberto.
“O mendigo ou O cão morto” tem direção de Neth Lira e traz no elenco Robson Ney, como o Mendigo, e Klindson Cruz, como o Rei, com sonoplastia de Ismael Farias. A montagem, baseada no texto homônimo do alemão Bertolt Brecht (1898-1956), enfoca o diálogo entre um rei, que retorna ao seu palácio após a vitória numa guerra, e um mendigo, que é cego e aparentemente desconhece estar falando com o regente.
Na discussão, o Mendigo conta diversas histórias e questiona o Rei – e a plateia – sobre a natureza do poder. “É um texto curto de Brecht, e muito contemporâneo, pois fala da realidade de ontem, de hoje e de amanhã. Muito do que o Mendigo diz reflete o que ocorre hoje no Brasil. Por exemplo, quando fala: ‘O Rei não existe, somente o povo acredita que ele existe’”, comenta Robson Ney.
A céu aberto – A montagem do Grupo CriAttor investe principalmente no trabalho dos atores e no texto original de Brecht. “Para esse trabalho, menos é mais. A rua já é muito rica em elementos visuais e sonoros, por isso não produzimos cenários ou coisas do tipo. Pensamos mais na roupa do Rei, na cênica do Mendigo, e ganhamos com o foco nos atores, que é algo que trabalhamos muito na peça”, assinala Robson Ney.
“O mendigo ou O cão morto” iniciou temporada no último dia 15 de dezembro, no Largo, onde vem sendo apresentada sempre às sextas-feiras. De lá para cá, a peça vem ganhando mais e mais atenção de quem transita pelo local.
“Temos conseguido uma participação maior do público a cada apresentação. Na última, tivemos mais de cem pessoas, com gente assistindo em pé”, recorda Ismael Farias, que participa de montagens de teatro de rua em Manaus desde o final dos anos 1970. “E elas têm nos dado um retorno positivo, tanto em relação ao espetáculo quanto à iniciativa de fazer a apresentação em praça pública”.
Para Ney, o interesse crescente reflete a necessidade do público por maior acesso a produções artísticas. “Numa das apresentações, estava chuviscando, mas as pessoas estavam lá esperando pela peça. A chuva não parou, mas ninguém saiu. Vimos a carência do público de ver espetáculos”, comenta o ator.
Da universidade à praça – “O mendigo ou O cão morto” foi desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso em Direção de Neth Lira, dentro do curso de Teatro da Universidade do Estado do Amazonas. A peça teve sua primeira encenação no Parque Estadual Jefferson Péres, no Centro, no início de dezembro. Mais tarde, levando à frente a temporada no Largo, diretora e elenco decidiram se unir com a criação do Grupo CriAttor.
“A partir dos ensaios já percebemos o engajamento do grupo. E, quando entramos em temporada e saíamos para chamar o público, sentimos falta de um nome para o grupo. Afinal conversamos e decidimos fundar o CriAttor com a finalidade de dar sequência à temporada e trabalhar o teatro de rua em Manaus”, explica Farias, que aponta o nome dado por Neth Lira como a junção de “criação” e “ator”, dois focos da trupe.
A atual temporada termina nesta sexta-feira, mas os integrantes do CriAttor esperam seguir em frente na nova etapa do Espaço Aberto, em fevereiro e março. “É preciso pensar projetos de teatro ou dança com um período maior de apresentações, pois assim é possível formar uma plateia e atrair novos seguidores”, aponta Ney. “Cada apresentação o público vem aumentando. Estamos formando plateia e isso é por demais gratificante”.
Mais à frente, o grupo também espera levar seu trabalho a novas praças e ruas, como vislumbra Farias: “Queremos depois partir para outros locais, como a periferia de Manaus, as áreas ribeirinhas da cidade e até outros municípios. E, mais adiante, participar de festivais de teatro de rua, nacionais e quiçá até internacionais”.
Fonte – Secom