Todos os finais de ano e início do ano novo as histórias se repetem. Sempre queremos algo novo, perspectivas novas, alegrias novas: desejos que quase nunca são satisfeitos, porque a mesmice reaparece depois da Folia de Reis.
Retiram-se as luzes extras colocadas nas praças, as vitrines das lojas readquirem seu aspecto anterior. O que muda é o barulho das ruas, agora com os ensaios exaustivos das escolas de samba e dos blocos de carnaval que cresceram como pragas (muitos gostam) pelo Brasil afora.
Depois do Ano Novo, espera-se o Carnaval chegar. E quem sabe a vida volta ao normal de antes. Mas as nossas esperanças permanecem. Ainda bem.
Para o ano novo, desejo: — que o tempo não se meta na vida dos amantes. Nem dos velhos.
Principalmente dos amantes idosos e das amantes idosas. De todos os gêneros. Afinal, o que todos desejam, por direito adquirido, é viver, amar, aprender e deixar um legado. Frase que, originalmente publicada em inglês, carrega uma sonoridade maravilhosa (live, love, learn, and leave a legacy) todas com a letra l.[i] É exatamente o que nós, pessoas idosas, também queremos para nossas vidas: viver em paz, dar e receber amor, ainda aprender e cuidar daquilo que queremos deixar para as gerações futuras, muito além dos patrimônios materiais.
— Que o sofrimento não atemorize corpos.
Que morte chegue suave aos doentes terminais, ao som dos Beatles.
Sim, um dia ela vem. Para todos. Tive a honra de acompanhar o meu pai durante o período crítico de sua vida, justamente na terminalidade dela. Foi um dos maiores aprendizados que tive ao longo de minha existência. E dele também. Eu, amante dos Beatles, usei a música dos rapazes de Liverpool como trilha sonora, principalmente Yelow Submarine. Mas poderia ser outra música. Trilhas sonoras são colocadas a gosto do diretor de cena, sempre com o intuito de, através da emoção, sugerir novos olhares.
— Que a luz dos olhos de minha morena brilhe como faróis em tempestades e enxergue bem longe.
Guiando. Como sempre.
É o que a gente sempre espera das mulheres: que elas iluminem nossas vidas e nos guiem nos principais momentos de tomada de decisões. O que devemos fazer é criar as condições necessárias para que elas exerçam seus poderes de magia com alegria e serenidade. O que todo homem deve almejar na vida é uma parceira, ou um parceiro, feliz. Porque a felicidade se expande, seduz e atrai outras pessoas felizes.
— Que ninguém perceba o negro pela cor, mas:
Pela beleza intrínseca.
Pela inteligência tão normal de qualquer cor.
O racismo ainda está longe de deixar de existir. Ele é estrutural em nossa sociedade, ainda escravocrata. Algumas mudanças começam a acontecer através de algumas redes de comunicação. Nunca vimos tantas pessoas pretas nas telas de televisão brasileiras, tanto nas novelas e séries quanto na publicidade. Antes eu pensava que algumas coisas eram privilégios de brancos: comprar um imóvel, por exemplo. Outras ainda são. Ser atendido com dignidade nos serviços de saúde ainda é diferenciado pela cor da pele. Gostaria que toda pessoa idosa preta fosse vista, e atendida, com alegria nos olhos, pois ela traz a sabedoria dos ancestrais, sabedoria adquirida no sofrimento da vida.
Fonte – Portal do Envelhecimento
Foto – Divulgação