Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2015 mostrou que 0,8% da população brasileira têm algum tipo de deficiência intelectual, sendo que 0,5% já nasceu com limitações. Mais da metade (54,8%) apresentam grau intenso ou muito intenso de limitação. No que diz respeito à educação, em 2019, o IBGE observou que apenas 52,88% das pessoas com deficiência intelectual estão alfabetizadas.
Solucionar esse problema tem sido um enorme desafio dos educadores e das escolas que enfrentam muitas barreiras para adaptar os conteúdos e avaliações. Olhando para esse contexto, as pesquisadoras Flávia Viana, do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CE/UFRN), e Adriana Limaverde, da Universidade Federal do Ceará (UFC), desenvolveram um protocolo para auxiliar professores a identificar quais estratégias autorregulatórias o aluno com deficiência intelectual utiliza para resolver uma situação problema.
Chamada de Protocolo de Avaliação de Estratégias Metacognitivas de Autorregulação (PROAMETA), a experiência acaba de ser publicada no livro A autorregulação por estudantes com deficiência intelectual. Fruto de uma tese de doutorado, o livro oferece contribuições importantes tanto na discussão sobre a deficiência intelectual como também na construção de estratégias que impulsionam a capacidade de aprendizagem por meio da autorregulação e da metacognição. Publicado pela Secretaria de Educação a Distância (Sedis) da UFRN, o livro está disponível gratuitamente em formato e-book e é voltado para professores e pesquisadores da área da educação.
De acordo com a professora Flávia Viana, existem cinco etapas na resolução do problema para esse grupo na escola: identificar a natureza do problema; fazer um planejamento; executar uma atividade; avaliar os resultados; e rever os planos e fazer uma autorreflexão.
Para cada uma dessas etapas é acionado os itens autorregulatórios. “A autorregulação é a habilidade de poder monitorar e modular sentimentos, a cognição e o comportamento para poder atingir um objetivo e adaptar-se às demandas cognitivas e sociais para situações específicas. Por exemplo, para identificar a natureza do problema, é necessário procurar por informação, que é um item regulatório. Logo, cada etapa terá itens autorregulatórios. E foi em cima dessas etapas e dessa perspectiva autorregulatória que o PROAMETA foi criado”, explica.
O PROAMETA é dividido em três grupos: Grupo 1 de fase intencional; Grupo 2 de fase executiva; e o Grupo 3 de fase autorregulação. No grupo 1, é avaliado sete itens autorregulatórios que identificam a natureza do problema e demonstram autoconfiança para iniciar a tarefa.
Já no grupo 2, que é a fase executiva, são avaliados oito itens autorregulatórios, sendo que o último item se subdivide em três subitens. É nessa fase que o professor deve procurar saber se o estudante ativa os conhecimentos espontâneos para resolver a situação problema e até saber se ele consegue realizar a atividade proposta sozinho.
O grupo 3 é a fase de autorregulação na qual são avaliados dez itens autorregulatórios que vão desde saber se o estudante consegue controlar a atenção e resistir à distração, até saber se ele é capaz de utilizar a mesma estratégia com a qual obteve êxito em diferentes contextos.
Aplicação do PROAMETA
O protocolo permite aos professores fazer planejamento, intervenção pedagógica tutorada, além de selecionar jogos por níveis de complexidade, desde os elementares, intermediários, até os mais avançados. “É por meio da proposição do jogo que é avaliado cada etapa das resoluções das situações problemas. Então, é analisado se o indivíduo é capaz de realizar a tarefa, se ele aciona esses itens regulatórios com mediação ou sem mediação. O objetivo é que o aluno possa conseguir acionar os seus itens autorregulatórios para solucionar o problema sem a mediação”, explica a professora Flávia Viana
Com o PROAMETA, o professor é capaz de saber quais os itens regulatórios que o aluno já tem e pode trabalhar com os itens que o seu aluno não domina. “O objetivo do protocolo é saber se, e como, as estratégias metacognitivas autorregulatórias, que são os indicadores de autorregulação, utilizadas pelos sujeitos com síndrome de Down se manifestam em função do uso de jogos em contexto de intervenção pedagógica tutorada”, acrescenta Flávia.
Além disso, o protocolo vai servir, por exemplo, para ser aplicado em alunos com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e com Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), entre outros transtornos intelectuais, para que os professores possam observar isso.
Segundo a pesquisadora, os jogos devem ser selecionados com a intenção de promover a autorregulação dos sujeitos. Para isso, é necessário que o professor escolha jogos que tragam situações problemas capazes de levar os alunos a criarem estratégias de soluções para atingir o objetivo do jogo. Isso vai permitir ao professor aplicar os regulatórios com e sem mediação. “Logo, a análise dessas estratégias metacognitivas autorregulatórias dos jogos devem ser classificadas de acordo com o nível de complexidade”, finaliza a professora. Leia no portal UFRN.
Fonte – Ascom
Foto – Divulgação