É muito comum falar que não é bom tomar muito antibiótico, pois “perde o efeito”. A verdade é que, com um uso constante desses medicamentos, os micro-organismos que deveriam combater começam a se acostumar, ou seja, criam resistência. Assim, cada vez é preciso uma dose maior de antibiótico para solucionar o problema, o que não é bom para a saúde.
No episódio passado do Boletim Alimentação e Sustentabilidade, foi analisado o uso de antibióticos na criação de animais para consumo. Mas será que esses medicamentos também impactam a saúde humana?
Cadeia alimentar
“Ao entrar nos organismos dos animais, esses antimicrobianos atuam sobre algumas espécies de bactérias, enquanto permitem que as resistentes à medicação se multipliquem. Por meio dos dejetos, essas bactérias se espalham no solo, na água e nas plantas e chegam às pessoas não só através do consumo de carne, mas também de água ou vegetais”, explica Ana Navarrete, coordenadora do Programa de Saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, parceiro da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.
Dessa forma, o impacto não ocorre apenas pela ingestão da carne contaminada, mas também por outros meios adjacentes. O uso exagerado de antibióticos na produção de animais para consumo — seja para o aumento da produtividade ou redução de doenças — pode trazer danos mais graves do que o restrito à pessoa que os consumiu.
“Assim, a produção animal é uma das formas de acelerar o processo de resistência a antibióticos, com o uso inadequado e excessivo como medicamento. Uma pessoa que se infecta com uma bactéria resistente pode, sim, ameaçar sua comunidade, uma vez que menos antibióticos disponíveis serão capazes de eliminar a infecção, ampliando o potencial de transmissão”, ressalta Ana.
Atitudes
Para minimizar o problema, existe o Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos no âmbito da Saúde Única (PAN-BR). Seu objetivo é “garantir que se mantenha a capacidade de tratar e prevenir doenças infecciosas com medicamentos seguros e eficazes, que sejam de qualidade assegurada e que sejam utilizados de forma responsável e acessível a todos que deles necessitem”, como consta na versão 2018-2022.
Porém, para manter as questões atualizadas, há uma segunda etapa do PAN-BR que diz respeito aos anos de 2023-2027: “Permanecer buscando harmonizar as políticas públicas nacionais às recomendações e exigências internacionais para o tema, assim como promover o fortalecimento das relações institucionais com os principais atores públicos e privados envolvidos, considerando sempre o conceito de Saúde Única”, pontua o documento.
Ana Navarrete destaca: “O fenômeno da resistência antimicrobiana, embora natural, é acelerado por processos com múltiplas causas: mau uso em humanos, descarte inadequado, falta de controle e monitoramento inadequado em hospitais e a forma como criamos animais contribuem para o seu agravamento. O fato de o fenômeno não respeitar fronteiras dificulta a responsabilização do problema, porque é difícil falar em um ‘culpado’. É preciso uma ação multissetorial e global”.
Com o foco na produção animal, “é preciso avançar na proibição e fiscalização do uso rotineiro de antibióticos e restrição do uso preventivo a tratamentos excepcionais de animais individuais. Além disso, os antimicrobianos não podem mais ser aplicados para compensar as más práticas de higiene na pecuária”, completa a especialista.
Fonte – Ascom
Foto – Divulgação