O mês de abril tornou-se referência na luta pela conscientização do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Celebrado mundialmente como Abril Azul, esse período é marcado por campanhas que visam ampliar o conhecimento sobre o autismo e incentivar a construção de uma sociedade mais inclusiva, empática e acessível. O azul, símbolo da causa, representa a diversidade e as diferentes formas de manifestação do transtorno, além de reforçar a importância do acolhimento e do respeito.
O TEA é uma condição do neurodesenvolvimento que influencia diretamente aspectos como comportamento, cognição, emoções e sociabilidade. Entre suas principais características, estão as dificuldades na comunicação, a presença de comportamentos repetitivos e os desafios nas interações sociais. O espectro é amplo, o que significa que as manifestações variam de pessoa para pessoa – algumas apresentam sintomas leves e conseguem viver com autonomia, enquanto outras precisam de apoio constante em diversas áreas da vida.
Dados atualizados apontam que entre 1% e 2% da população mundial está dentro do espectro autista. No Brasil, estima-se que existam entre dois a quatro milhões de pessoas com TEA, sendo que os meninos têm um risco aproximadamente quatro vezes maior de diagnóstico em relação às meninas. O número de estudantes com autismo matriculados na educação básica brasileira também cresceu significativamente — só entre 2017 e 2021, o aumento foi de 280%, revelando avanços tanto na identificação precoce quanto na inclusão educacional.
A identificação do transtorno exige uma análise criteriosa por parte de uma equipe multidisciplinar, geralmente composta por profissionais como psicólogos, pediatras, terapeutas ocupacionais e psiquiatras. Essa avaliação envolve observar o comportamento da criança, sua maneira de se comunicar, interagir e reagir ao ambiente. Em muitos casos, os primeiros sinais podem surgir ainda nos primeiros anos de vida, entre 18 meses e 3 anos, tornando essencial a atenção dos pais e cuidadores nesse período.
Os sinais podem incluir dificuldades em fazer ou manter contato visual, problemas de comunicação verbal e não verbal, desinteresse por jogos sociais, repetição de movimentos ou comportamentos e resistência a mudanças na rotina. Os cuidados com indivíduos com TEA envolvem estratégias de apoio que abrangem diversas áreas da vida, desde o ambiente familiar até a escola e o trabalho. O acompanhamento terapêutico é fundamental e deve ser individualizado, levando em consideração as necessidades específicas de cada pessoa.
Entre os cuidados mais comuns, estão terapias de intervenção precoce, cruciais para ajudar a criança a desenvolver habilidades de comunicação, sociais e de autonomia; terapias comportamentais, como a Análise Comportamental Aplicada (ABA); apoio educacional, com o uso de estratégias e adaptações pedagógicas para facilitar o aprendizado; e medicação, que pode ser indicada para controlar sintomas relacionados ao TEA, como agressividade ou dificuldades de concentração.
Nos últimos anos, políticas públicas importantes foram implantadas no Brasil. Em 2023, o Ministério da Saúde incluiu o TEA na Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência, destinando mais de R$ 540 milhões para fortalecer a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência. Além disso, foi instituído um Grupo de Trabalho sobre o TEA, responsável por coordenar ações específicas de atendimento e suporte ao nível nacional. Em 2024, também foi apresentado o Projeto de Lei 5796/23, que propõe a criação do Cadastro Nacional da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, para aprimorar o acesso aos serviços e à formulação de políticas públicas eficazes.
A psicologia tem um papel fundamental no apoio a essas pessoas, tanto no desenvolvimento de estratégias para melhorar a comunicação e as interações sociais quanto na oferta de suporte emocional. Psicólogos clínicos, psicoterapeutas e psicopedagogos ajudam as famílias a entenderem melhor o comportamento dos indivíduos com TEA, oferecendo técnicas específicas de manejo de comportamentos, estratégias de comunicação e promoção da autonomia.
Além disso, a psicologia contribui na redução do estigma em torno do TEA e no processo de inclusão social. Maria Vilani, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Martha Falcão Wyden, explica: “O trabalho da psicologia no contexto do TEA vai além de tratar os sintomas. Nosso objetivo é fornecer suporte emocional e estratégias eficazes para que os indivíduos possam desenvolver ao máximo suas habilidades sociais e de comunicação. A integração com a família e com outros profissionais é essencial para podermos promover o desenvolvimento da autonomia e autoestima, buscando sempre a qualidade de vida e a independência dos pacientes.”
Fonte – Ascom
Foto – https://www.gov.br/