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Qualidade nutricional da dieta brasileira pode melhorar com pequenas mudanças

Fazer mudanças na dieta costuma ser uma tarefa árdua: sem a devida disciplina, é muito fácil voltar à alimentação com a qual já estamos acostumados. Considerando esse fator, um estudo publicado na revista científica PLOS ONE buscou encontrar as alternativas de dietas nutricionalmente adequadas que mais se aproximam dos hábitos alimentares dos brasileiros.

Conforme mostraram os resultados, é possível atingir um nível saudável com poucas alterações na dieta, e, na maioria dos casos, sem aumento de custo. Os dados foram contabilizados tendo como base a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada pelo IBGE, em 2008-2009. Nos valores da época, o custo mínimo estimado para ter uma dieta nutricionalmente adequada, por dia, era de R$ 5,96 por pessoa.

O estudo é de autoria do professor Eliseu Verly Junior, do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e tem colaboração da professora Flavia Mori Sarti, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

Dieta sob medida

Os números foram calculados seguindo uma técnica de otimização de dados, cujo objetivo era encontrar a dieta nutricionalmente saudável de menor custo e mais próxima do culturalmente aceito em cada local do Brasil. Ao todo, foram analisadas 108 pequenas regiões, as mesmas consideradas pelo IBGE na POF.

“Planejar o que as pessoas deveriam comer para melhorar a ingestão de nutrientes não é tão difícil, mas a questão é que as pessoas têm seus hábitos alimentares, suas culturas, e não dá certo simplesmente dizer o que elas precisam comer sem considerar o que elas aceitam”, explica Eliseu.

Dessa forma foi possível verificar, por exemplo, que o consumo de peixe e frutos do mar é mais bem aceito na região Norte, onde esses produtos costumam ser também mais baratos, e por isso eles podem representar um papel maior na ingestão de nutrientes do que em outros lugares. Outro dado é que o País inteiro mantém um consumo de carne vermelha e processada mais alto que o recomendado, sobretudo na região Sul. Já o consumo de frutas e vegetais é menor que o ideal.

Na maioria dos grupos considerados, a alteração na dieta poderia ainda significar economia de gastos. A exceção são as classes sociais mais baixas, cujo gasto médio diário, de R$ 4,99 por pessoa (ainda nos valores referentes a 2008-2009), teria de ser incrementado para pagar o valor mínimo da dieta recomendada, de R$ 5,96 por pessoa.

“A classe mais rica já gasta mais dinheiro com alimentação do que a mais pobre, então já tem mais possibilidade de fazer modificações sem aumentar o gasto. Para as classes mais baixas, por mais que modifique, sempre vai ficar faltando algum dinheiro para complementar”, diz Eliseu.

Como referência para a dieta indicada, foram consideradas as recomendações das Dietary Reference Intakes (Ingestão diária recomendada), estabelecidas pelo Instituto de Medicina dos Estados Unidos.

Transformando dados em políticas públicas

Somada a outros estudos populacionais, a pesquisa pode contribuir para a manutenção de políticas públicas que tenham como objetivo melhorar a qualidade da alimentação dos brasileiros.

“A gente percebe, quando vê a alimentação da população, que essas inadequações contribuem para piorar problemas de saúde a médio e longo prazo”, diz a professora Flávia. “A alimentação e a nutrição são muito importantes para prevenir esses problemas. Então, podemos pensar em educação nutricional, em conversar com as pessoas e dizer ‘olha, esses alimentos que você está consumindo não estão tão bons, você pode trocar por outros’.”

O feijão, rico em fibras e ferro, é um dos alimentos mais nutritivos e bem aceitos pelos brasileiros 

Uma outra alternativa é o uso de políticas econômicas para incentivar um consumo mais saudável, com subsídios para alimentos ricos em nutrientes e/ou impostos para opções menos recomendáveis. Mas, nesse caso, a professora destaca que é preciso analisar com cuidado.

“Simplesmente colocar imposto ou subsídio não garante que serão atingidas as recomendações nutricionais. Até porque, como o próprio estudo mostrou, o mais importante é ficar o mais próximo possível do que as pessoas já consomem, não adianta querer forçá-las a mudar completamente a alimentação”, encerra.

 

 

Fonte – USP

Foto – Divulgação

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