Resultados de mais de dez anos de pesquisas enfocando a produção de laranja foram destaque do Seminário de Citricultura, realizado nos dias 3 e 4 de outubro de 2019, na Universidade Nilton Lins e no Campo Experimental da Embrapa no Caldeirão, em Iranduba (AM). Organizado pela Embrapa Amazônia Ocidental, Embrapa Mandioca e Fruticultura e empresas do Sistema Sepror (Secretaria de Produção Rural do Estado do Amazonas), o evento fez parte da programação da 41ª Expoagro, que aconteceu entre os dias 3 e 6, em Manaus (AM).
O seminário reuniu técnicos agrícolas, pesquisadores, bolsistas e produtores rurais envolvidos com a cadeia citrícola nos estados do Amazonas e Roraima. As palestras abordaram principalmente sobre as novas variedades de porta-enxerto e de copa adaptáveis às condições do Amazonas dentre outros resultados obtidos com os trabalhos de combinações copa/porta-enxerto, adubação verde em citros, plantas daninhas e pragas.
O pesquisador José Eduardo Carvalho, da Embrapa Mandioca e Fruticultura disse que o evento era fruto do trabalho do Projeto Citros na Amazônia, que visa a expansão da citricultura e está sob a coordenação da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). O projeto encontra-se na terceira fase e nesses quase 10 anos, o Governo do Estado já aportou cerca de 1,7 milhão em bolsas e outros incentivos para o desenvolvimento do setor. “A expectativa é tornar a citricultura bem mais sustentável, ambientalmente e economicamente para o produtor”, ressaltou.
O secretário da Sepror, Petrúcio Magalhães Júnior, presente ao evento, reforçou o apoio do Governo do Estado ao setor, falando da importância da parceria com a Embrapa e a Ufam, que juntos desenvolveram três projetos que buscam o desenvolvimento da citricultura no estado do Amazonas.
O primeiro projeto realizado de 2010 a 2012 foi “Desenvolvimento da Citricultura e Implantação do Modelo de Produção Integrada no Estado do Amazonas” ; o segundo de 2013 a 2016 com o título “Pesquisa e Transferência de Tecnologias para o Desenvolvimento da Citricultura no Estado do Amazonas” ; e o atual, com vigência de 2018 a 2020, “Avaliação de novas combinações de copas/porta-enxertos, manejo fitossanitário e boas práticas de cultivo, em citros no Estado do Amazonas” .
Entre os problemas enfrentados na citricultura, destaca-se a dependência de porta-enxertos suscetíveis às doenças do declínio e da morte súbita, deixando o mercado consumidor no estado do Amazonas praticamente preso à laranja pêra e o produtor ao uso do porta-enxerto que tem os problemas também de gomose, que é uma doença fatal aos citros.
Diante desses problemas, as equipes da Embrapa e da Ufam implantaram em 2013 o projeto de Pesquisa e Transferência de Tecnologias para o Desenvolvimento da Citricultura no Estado do Amazonas , em parceria com a Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror) e Fapeam. Esse projeto visa a diversificação de copas e de porta-enxertos como boas opções para o citricultor do Amazonas. Os novos porta-enxertos e copas são provenientes da Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA) e foram plantados para avaliação no Amazonas, estando atualmente com a colheita da safra do quinto ano. Foram plantados em três propriedades de produtores parceiros: na Fazenda Panorama, em Rio Preto da Eva; Fazenda Canaã e o Brejo do Matão, em Manaus, estrada BR-174. Essas três propriedades adotaram essas copas sobre porta-enxertos que estão dando bons resultados.
Segundo Cláudio Leone, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, a realização do seminário teve por objetivo divulgar os resultados promissores dos trabalhos de pesquisa com porta-enxertos e copas trazidos de Cruz das Almas para o Amazonas desde 2013. “Os resultados começaram a surgir agora, com as colheitas, as mensurações necessárias, e os indicativos foram muito convincentes, por que a produção desses novos porta-enxertos superaram a do limão cravo, que é o mais utilizado na região e que é mais problemático por ser suscetível a algumas doenças. Então queremos que essa informação chegue ao maior número de pessoas”.
Os três porta-enxertos já foram lançados pela Embrapa e são três citrandarins (cruzamento de tangerina Sunki e trifoliata): Índio, Riverside e San Diego. Esse material foi testado em São Paulo, na região Sul do país e na Bahia. Mas não se pode recomendar para o Amazonas sem antes testar na região sob as condições de clima e solo. Além desses três, há um híbrido a ser lançado este ano, que está em fase de registro no Ministério da Agricultura.
Evolução da citricultura amazonense
Segundo Cláudio Leone, que acompanha as pesquisas desde 2010, a citricultura amazonense teve uma evolução a “olhos vistos”, por que no passado o produtor adquiria mudas do vizinho, sem ao menos saber a variedade. “Então hoje com a introdução desse projeto, os produtores começaram a ouvir e se interessar pelas mudas da Embrapa e querem abandonar os antigos materiais e adotar as novas variedades”.
No segundo dia da programação foi realizada uma visita no campo Experimental do Caldeirão, da Embrapa Amazônia Ocidental, em Iranduba. No local, os participantes puderam conhecer experimentos relacionados à cobertura vegetal em entrelinhas no pomar e também testes com cinco porta-enxertos, que ainda são pouco utilizados no estado do Amazonas.
Segundo o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, José Eduardo Carvalho, a cobertura vegetal, com espécies gramíneas e leguminosas, traz uma série de benefícios para o pomar. Entre eles, o pesquisador destaca a produção de biomassa, a redução da necessidade de uso de herbicidas, a otimização dos serviços ambientais e a melhoria na qualidade do solo. “Também é possível ter um controle maior de plantas daninhas, que não são desejadas dentro do pomar”, ressaltou.
Já em relação aos porta-enxertos, no experimento estão sendo testados cinco novos materiais desenvolvidos pela Embrapa Mandioca e Fruticultura. O objetivo é avaliar quais desses materiais podem ser recomendados para o estado do Amazonas. De acordo com o pesquisador Claudio Leone Azevedo, ao recomendar novos porta-enxertos, a Embrapa quer incentivar a diversidade genética, com adaptados bem às condições locais e que sejam produtivas.
O Seminário da Citricultura contou com o apoio das seguintes instituições: Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Amazonas (Idam), Universidade Nilton Lins, Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS) e Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Amazonas (Adaf) e contou com palestras de especialistas da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA) e da Associação dos Produtores de Citros Amazoncitrus.
Fonte – Embrapa Amazônia
Foto – Divulgação