O envelhecimento é um processo caracterizado por diversas modificações no organismo, incluindo mudanças nas funções cognitivas. As funções como memória, atenção, percepção e raciocínio tendem a apresentar um declínio gradual com o avançar da idade. Embora o envelhecimento cognitivo envolva processos naturais de diminuição das conexões neuronais e da eficiência das funções cognitivas, é possível atenuar ou mesmo prevenir essas modificações por meio de intervenções cognitivas.
São descritas na literatura, três principais modalidades dessas intervenções: reabilitação cognitiva, estimulação cognitiva e treino cognitivo. De acordo com Gavelin e colaboradores (2020), o treino cognitivo refere-se a um conjunto de atividades estruturadas e direcionadas ao aprimoramento e manutenção de funções cognitivas específicas, como memória, atenção, linguagem, percepção e raciocínio.
As atividades realizadas em programas de treino cognitivo pretendem promover a plasticidade cerebral, um fenômeno neurobiológico fundamental que envolve a capacidade do cérebro de reorganizar suas conexões neuronais em resposta a estímulos e experiências. A plasticidade cerebral é uma característica que persiste ao longo da vida, o que significa que o cérebro pode continuar a formar novas conexões e fortalecer as existentes, mesmo durante a fase da velhice.
Estudos como o de Shaw e Hosseini (2020), demonstram que o cérebro permanece com capacidade de plasticidade mesmo em indivíduos idosos, sendo capaz de compensar déficits cognitivos por meio de novos padrões de ativação neural, especialmente quando exposto a estímulos adequados. O treino cognitivo é capaz de criar novas vias de comunicação entre as regiões cerebrais, possibilitando a melhora do desempenho cognitivo e contribuindo com a prevenção do aparecimento de condições neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer e outros tipos de demência.
Como mencionado anteriormente, o treino cognitivo pode ser realizado para melhorar ou fortalecer uma função cognitiva específica, como a memória e seus subsistemas. Nessa perspectiva, Brum et al. (2022), apresentam em um dos capítulos do Tratado de Geriatria e Gerontologia, abordagens e impactos do treino cognitivo para a memória episódica e operacional para pessoas idosas com cognição preservada e também com comprometimento cognitivo leve. As autoras destacam que, pessoas com diferentes perfis cognitivos podem se beneficiar dessa prática de intervenção.
Em um estudo experimental, Yassuda et al. (2006), investigaram os efeitos do treino de memória em 69 idosos saudáveis. Divididos em grupo experimental (GE) e controle (GC), participaram de quatro sessões abordando memória, envelhecimento e estratégias práticas, como organização de listas e grifo de ideias principais. O GE mostrou melhora na recordação de textos e maior uso de estratégias, enquanto ambos os grupos relataram menos queixas de memória e maior velocidade de processamento.
Costa e Silva (2024), apresentam, ainda, os benefícios do treino cognitivo para a qualidade de vida de pessoas idosas. Segundo as autoras, os ganhos para as funções cognitivas contribuem com a manutenção da funcionalidade do indivíduo, o que permite a preservação da autonomia e independência, que estabelecem forte correlação com a qualidade de vida. Além disso, destaca-se que, quando praticado em grupo, o treino cognitivo impulsiona a criação e fortalecimento das interações sociais, aumentando o bem-estar das pessoas idosas.
Portanto, o treino cognitivo, que pode ser realizado por profissionais capacitados como gerontólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais, é uma intervenção eficaz, contribuindo com a manutenção de um envelhecimento saudável nos aspectos cognitivos e de saúde mental.
Fonte – Portal do Envelhecimento
Foto – Enginakyurt/Pexels