Diante da crescente preocupação com a sustentabilidade e a qualidade das experiências turísticas, o Slow Tourism, ou turismo lento, surge como uma alternativa às viagens convencionais. De acordo com Adriana Santos Brito, doutoranda em Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (USP) da USP, o conceito busca desacelerar o ritmo das visitas, proporcionando uma vivência mais profunda e significativa para os turistas, ao mesmo tempo em que valoriza as comunidades locais e minimiza impactos ambientais.
Conforme a pesquisadora, o Slow Tourism se contrapõe ao turismo de massa e às viagens apressadas, promovendo um olhar mais atento às histórias, culturas e tradições dos locais visitados. Inspirado pelo movimento Slow Food italiano, que valoriza a produção e o consumo consciente de alimentos, e pelo conceito de cittaslow, que defende um ritmo de vida mais tranquilo nas cidades, essa modalidade propõe uma relação mais autêntica entre viajantes e destinos.
Princípios
Segundo Adriana, entre os princípios do Slow Tourism, o primeiro é a desaceleração. Ao contrário do turismo tradicional, que privilegia a quantidade de pontos visitados, essa abordagem incentiva um tempo maior de permanência em poucos locais, permitindo uma imersão mais profunda na cultura local.
Outro pilar fundamental é a busca pela autenticidade. O turismo lento prioriza experiências que valorizam a vida cotidiana dos moradores, incentivando atividades como participação em feiras, festivais e oficinas culturais. A intenção é conhecer não apenas os pontos turísticos mais populares, mas também as histórias e tradições que tornam cada destino único.
“A sustentabilidade também é crucial ao Slow Tourism. Práticas que reduzem o impacto ambiental, respeitam a biodiversidade e fomentam o desenvolvimento local são incentivadas. Isso inclui hospedagens sustentáveis, alimentação baseada em ingredientes locais e o apoio a pequenos produtores e artesãos”, destaca.
Proximidade
A interação com a comunidade é outro diferencial dessa abordagem. Adriana explica que, ao participar ativamente da vida local, os turistas têm a oportunidade de estabelecer conexões genuínas, enriquecendo sua experiência e contribuindo para a economia da região visitada.
Conforme a pesquisadora, a possibilidade de viagens mais relaxantes e enriquecedoras permite experiências com menor nível de estresse. Além disso, o impacto positivo nas comunidades receptoras é significativo, pois o turismo lento estimula a economia local e promove uma distribuição mais justa dos recursos.
No Brasil, essa prática vem ganhando espaço. A Experiência Full Pantanal é um exemplo que combina contato com a natureza, hospedagem em locais sustentáveis e gastronomia típica pantaneira. Outra iniciativa é a Experiência Imersão Amazonas, que conduz viajantes por uma jornada na Floresta Amazônica, chegando à Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, um modelo de turismo comunitário.
O conceito também se aproxima do enoturismo e do turismo de cervejas. No Brasil, a Estrada do Sabor, no Rio Grande do Sul, é uma referência nesse segmento, valorizando vinícolas e a cultura rural. Da mesma forma, a Rota da Cerveja, em Santa Catarina, atrai visitantes interessados na produção artesanal de cervejas.
Desafios
No entanto, para Adriana Santos Brito, alguns desafios ainda precisam ser superados para que o Slow Tourism se expanda no País. Um deles é a conscientização dos viajantes sobre os benefícios dessa modalidade, incentivando uma nova forma de vivenciar o turismo. Além disso, ela diz que é necessário investir na infraestrutura básica e em serviços que atendam a essa demanda de maneira adequada em todas as regiões do Brasil.
“Mais do que apenas visitar destinos, os turistas que adotam essa abordagem se tornam parte da cultura local, contribuindo para a preservação das tradições e fortalecendo as comunidades. Assim, essa modalidade se firma como uma alternativa viável para um turismo mais consciente e significativo”, esclarece.
Fonte – USP
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