Ciência e Tecnologia

Violência doméstica está ligada a sinais de transtornos alimentares, aponta estudo

Entre os comportamentos mais comuns, 15,8% das entrevistadas relataram pular refeições ou comer muito pouco. O estudo também mostra que o vômito autoinduzido é mais frequente entre vítimas de violência física, que têm maior probabilidade de apresentar restrição alimentar.
Os resultados reforçam a importância de uma atenção integrada entre profissionais de saúde, voltada ao cuidado físico e emocional de mulheres em situação de violência.
Mulheres vítimas de violência doméstica apresentam maior tendência a desenvolver transtornos alimentares, segundo pesquisa da UERJ.

Mulheres que sofrem violência doméstica têm maior probabilidade de adotar práticas prejudiciais de controle de peso, como provocar vômitos ou deixar de se alimentar. A relação é ainda mais evidente entre vítimas de violência física, segundo pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), publicada na Revista Brasileira de Epidemiologia.

O estudo analisou dados de 847 mulheres da cidade de Duque de Caxias (RJ), todas envolvidas em relacionamentos românticos ou íntimos nos 12 meses anteriores. A idade média das participantes foi de 40 anos, variando entre 18 e 64. A maioria era da classe C (67%), não branca (63%) e residia com o parceiro (90%), embora ele não estivesse presente durante as entrevistas.

A violência física foi reportada por 17% das entrevistadas e a psicológica, por 61%. Aproximadamente 20% exibiram ao menos um comportamento relacionado a transtornos alimentares, sendo a prática mais comum a de pular refeições ou comer muito pouco, relatada por 15,8% das entrevistadas. Os pesquisadores verificaram que a exposição a ambas as formas de violência aumentou a probabilidade de vômitos autoinduzidos, com associação mais forte para as vítimas de violência física — que também apresentaram maior probabilidade de pular refeições.

As causas de tal relação podem ser variadas, incluindo impactos da violência na insatisfação com a imagem corporal, dificuldades de regulação emocional e mudanças fisiológicas provocadas pela exposição prolongada ao estresse, que pode alterar padrões alimentares e impactar negativamente os processos metabólicos.

Segundo a pesquisadora Emanuele Souza Marques, o estudo é o primeiro a avaliar tal relação em um país de renda média, com resultados consistentes com a literatura científica de até então. “Até o momento, a maioria das pesquisas vinha de países de alta renda. Além disso, usamos um questionário validado para medir a violência sofrida, o que dá maior confiabilidade aos nossos resultados.”

Ela também ressalta a importância de que os resultados se tornem conhecidos pelos profissionais de saúde: “É importante estar atento a esta relação, de modo a abordar a questão de práticas alimentares inadequadas em pacientes que sofreram violência doméstica. Para as vítimas, é fundamental receberem um cuidado de saúde integral, em que médicos, nutricionistas, endocrinologistas e psiquiatras estejam atentos a esses impactos da violência.”

 

 

Fonte – Agência Bori

Foto – FreepiK

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