A fé impulsiona mudanças de vida dentro do cárcere. Melhor, ainda, quando aliada ao trabalho. Há quatro anos, na época do Círio, produtos decorados com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, como quadros, chaveiros, toalhas de rosto e camisas são confeccionados e vendidos pela Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostafe), formada por detentas do Centro de Recuperação Feminino (CRF) de Ananindeua.
“Círio é amor, Círio é esperança, Círio é milagre”, afirmou Aretha Corrêa, 29 anos, que cumpre pena no regime fechado há sete anos. Para ela, a fé motiva a sobreviver à falta de liberdade. “Eu tenho muita fé. Ela alimenta minha alma e meu espírito todos os dias, porque não é fácil viver dentro de uma cadeia. Eu não sei como iria conseguir sobreviver até hoje se não fosse pela fé”, contou a interna. Durante a confecção dos produtos, as cooperadas fazem pedidos à Nossa Senhora. Enquanto estão bordando a imagem ou montando a guirlanda, depositam devoção e buscam milagres e bênçãos para a família.
“As experiências propiciadas pela fé são essenciais para a reeducação do ser humano. Em momentos como este, no qual o povo paraense promove uma grande prova de fé, as custodiadas também se sentem motivadas e inseridas na sociedade ao realizarem trabalhos artesanais e artísticos voltados ao Círio, demonstrando que a fé tem a capacidade de promover os sentimentos de amor, comunhão e gratidão”, explicou o diretor de Reinserção Social, Belchior Machado.
Atualmente, 20 internas integram a Coostafe, trabalhando diariamente na produção de artesanatos, como objetos de pelúcia, crochês, vassouras ecológicas, sandálias e bijuterias, entre outros produtos que são comercializados no projeto “Vem Pra Feira”, em shoppings e praças públicas de Belém, Ananindeua e Marituba, na Região Metropolitana.
Esperança – “Para mim, a Coostafe foi uma porta de esperança. Eu me senti gente de novo, porque quando nós somos presas ficamos deprimidas. Parece que não conseguiremos e não seremos bem vistas pela sociedade. Quando eu entrei aqui foi uma chance muito grande”, disse Gesielem Lopes, 43 anos, presa em regime fechado há três anos.
Quando reconquistar a liberdade, ela pretende trabalhar com o que aprendeu na Coostafe e voltar a conviver com os filhos, de 10 e 14 anos. “Meus planos são trabalhar e curtir meus filhos. Quero ser uma mãe amorosa, mais presente, amiga deles, e ser completamente diferente do que eu era. Penso em montar uma parceria lá fora com uma irmã minha e trabalhar para ajudar minha família”, informou.
Já para Aretha Corrêa, a Cooperativa é mais do que um meio de trabalho. “Não há nenhuma palavra que possa definir o que a Coostafe significa para mim porque, ao mesmo tempo em que a gente está trabalhando, exercendo uma função, estamos nos ajudando. A Cooperativa serve para que, além de um ofício, a gente venha se autoconhecer, se valorizar, se curar. Não é só o artesanato ou os cursos”, ressaltou a interna que faz parte da Coostafe há cinco anos. “Quero me formar em pedagogia e direito, porque quero fazer um trabalho humanitário dentro do cárcere. Não quero me desligar daqui, porque assim como um dia eu precisei de ajuda, também quero contribuir alfabetizando lá fora crianças e adultos”, completou.
A Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostafe) é a primeira cooperativa, no Brasil, formada exclusivamente por internas do sistema penitenciário. É um projeto de economia solidária para as internas, e ainda oferece a oportunidade de ocupar o tempo, aprender uma profissão e remir pena por meio do trabalho. A taxa de reincidência criminal das presas que passaram pela Cooperativa é zero.
Fonte – Agência Pará
Foto – Divulgação