“Pelo que eu me lembro, já fiz mais de 100 partos. O primeiro que fiz, eu tinha 17 anos e foi de gêmeos. Fiquei nervosa, mas só tinha eu na comunidade para ajudar aquela mãe. Me lembrei dos ensinamentos da minha avó, que também era parteira, e ajudei a colocar no mundo duas crianças”. A memória relatada é da Dona Benta Martins, parteira há mais de 50 anos, ela relembra em meio à risadas como foi o primeiro parto que realizou e fala orgulhosa sobre o ofício que percorreu gerações na sua família. “Onde tem parteira, tem saúde. As parteiras cuidam da vida do bebê e da mãe. Em muitas comunidades, só tem nós para realizar o parto”, relata.
Dona Benta é uma das mais de 70 mulheres que participaram do 14º Encontro de Parteiras Tradicionais de Tefé (AM). O evento, que é uma iniciativa do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) , ocorreu entre os dias 18 e 20 de julho, na cidade de Tefé, no interior do Amazonas. A Associação de Parteiras Tradicionais do Amazonas Algodão Roxo (APTAM) também participou da organização.
O Encontro discutiu temas como a organização do grupo de parteiras, aproveitando a oportunidade para treinamentos e revisões sobre a importância do pré-natal e das técnicas de reanimação neonatal.
Parteiras, profissionais da saúde e técnicos e pesquisadores do Instituto Mamirauá participaram das atividades, que têm o apoio da Fundação Oswaldo Cruz; da Sociedade Brasileira de Pediatria; do Distrito Sanitário Especial Indígena de Tefé; das Prefeituras de Tefé e Alvarães .
Saber tradicional
Maria das Dores Marinho, faz parte do Programa Qualidade de Vida do IDSM e é uma das coordenadoras do evento, ela fala da importância das parteiras da região do Médio Solimões buscarem o reconhecimento do ofício. “Um dos principais pontos do Encontro foi discutirmos a necessidade de buscarmos apoio e parcerias que viabilizem políticas públicas para essas mulheres”, diz.
De acordo com a Associação das Parteiras Tradicionais do Estado do Amazonas Algodão Roxo (APTAM), estima-se que há cerca de 1.400 parteiras no estado. Diante da quantidade de mulheres que exercem este ofício nas comunidades do interior do Amazonas, estes encontros delas com as instituições de saúde são espaços que possibilitam trabalhar a reconfiguração do papel da parteiras mediante as exigências protocolares do SUS, além de uma maior aceitação de diferentes concepções de saúde, como explica Dores. “Neste encontro, tivemos parteiras de aldeias indígenas e ribeirinhas. Ficamos muito felizes com a presença delas. Alinhamos os conhecimentos obstétricos com os tradicionais e nos articulamos para seguir em busca da valorização das parteiras”.
Ao final, as parteiras tradicionais discutiram reivindicações em diferentes temáticas e assinaram uma carta de demandas para ser encaminhada às instituições públicas.
Fonte – Mamirauá
Foto – Divulgação




