Estudo inédito no Inpa mostra viabilidade do plantio de pau-rosa com métodos não destrutivos
Estudo inédito do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) mostra que é possível conservar, mediante manejo de plantios comerciais e com métodos não destrutivos, o pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke), uma espécie arbórea amazônica que produz um dos óleos essenciais mais valiosos do mundo utilizado pela indústria de perfumaria fina. Por causa da superexploração extrativista, a espécie, que já foi o terceiro produto da balança comercial do Estado do Amazonas, está ameaçada de extinção.
De acordo com o estudo, é necessário o desenvolvimento de critérios técnicos para o manejo sustentável desses plantios, hoje, escassos ou praticamente inexistentes. O estudo elucidou aspectos relevantes sobre o cultivo do pau-rosa, que estimulam a prática de silvicultura (cultivo de árvores) econômica da espécie.
Atualmente, a colheita do pau-rosa ocorre pela remoção de 100% da copa ou de toda a árvore, depois de cortar o tronco a 50 centímetros acima do solo para, em seguida, extrair óleo essencial de todas as partes da árvore. No estudo, foi abordado o uso da rebrota, a partir do manejo da planta com métodos não destrutivos, chamado manejo da biomassa aérea.
O estudo foi desenvolvido durante o doutorado em Ciências de Florestas Tropicais do Inpa pelo engenheiro florestal Pedro Medrado Krainovic, orientado pelo pesquisador do Instituto Paulo de Tarso Barbosa Sampaio.
“As informações geradas sobre a silvicultura do pau-rosa tem contribuído para definição de técnicas para o manejo dos plantios pela poda da copa ou decepa das cepas visando o aumento da biomassa aérea e, consequentemente, à produção de óleo”, diz Sampaio, ao acrescentar que o Inpa desenvolve estudos sobre a silvicultura de plantios homogêneos, consorciados e de enriquecimento com espécies florestais nativas da região amazônica desde a década de 60.
Segundo o pesquisador, os estudos desenvolvidos por Krainovic (2016), no município de Maués, demonstram a viabilidade técnica e econômica do cultivo desta espécie em solos com histórico de degradação. “O óleo de pau rosa com origem, rastreabilidade e certificação orgânica apresenta os requisitos essenciais para o novo conceito de economia verde valorizado no mercado internacional”, destaca.
Na opinião de Sampaio, a expectativa de acesso a esse “novo” tem despertado o interesse de produtores locais, que diante dessa oportunidade estão querendo aumentar os investimentos na produção de óleos a partir da madeira, folhas e galhos de árvores plantadas. “Isso possibilitará a disponibilização de maiores volumes de óleo de origem certificada, dinamizando a economia e contribuindo para melhorar a condição econômica e social das comunidades rurais”, diz.
Mercado internacional
A demanda pelo óleo essencial de pau-rosa é grande e toda a produção, hoje, só é possível mediante plantios realizados para esta finalidade. A produção é absorvida pelo mercado internacional, principalmente, Estados Unidos, Europa e Ásia que são os principais consumidores do óleo essencial.
Segundo Krainovic, apesar de toda matéria-prima ser consumida pelo mercado de cosmético e de perfumaria, há relatos na literatura do potencial do óleo essencial do pau-rosa no uso medicinal (anestésico, contra ansiedade, contra dores nas articulações, dentre outras enfermidades), o que pode diversificar ainda mais a cadeia produtiva e criar novas oportunidades de pesquisas negócios.
A pesquisa
O trabalho de Krainovic, defendido em 2017, englobou desde aspectos de planejamento e contribuição para mudanças climáticas (modelagem de biomassa), passando pelo manejo da biomassa aérea propriamente dito com a aplicação de métodos silviculturais (aspectos de colheita e acompanhamento da rebrota) e concluindo com estudos sobre a qualidade do produto final (óleo essencial). Isso tudo com a maior amostragem já realizada para a espécie.
As amostragens foram feitas em três plantios, sendo dois em Maués (a 276 quilômetros de Manaus/AM) e um plantio em Novo Aripuanã (distante 227 quilômetros da capital). Foram 144 árvores das quais 36 foram podadas e o restante cortado (108) de forma a permitir a emissão de novos brotos.
“Foram cerca de 10 toneladas de material fresco avaliado. Foi a maior amostragem já feita para a espécie e para o levantamento dos primeiros critérios técnicos a serem adotados em plantios comerciais”, destaca Krainovic.
Os estudos sobre o manejo da biomassa aérea foram feitos no Laboratório de Propagação de Plantas e Mídias Digitais (Lasted/Inpa), assim como os estudos relativos à predição de biomassa (equações para estimar a biomassa e, consequentemente, a produção em óleo essencial). O trabalho também contou com a colaboração do grupo de pesquisa em biomoléculas de produtos naturais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), na época coordenado pelo professor doutor Valdir Veiga.
Importância
Krainovic explica que o estudo contribui para o manejo sustentável do pau-rosa, estimulando a atividade para atrair investidores e incentivar a prática da silvicultura na Amazônia. Silvicultura a ciência que estuda métodos naturais e artificiais de restaurar e melhorar povoamentos florestais para atender às exigências do mercado.
De acordo com o estudo, é possível plantar espécies nativas da Amazônia e obter produtos com diferentes qualidades, o que pode ser interessante para o mercado. O estímulo à cadeia produtiva desses produtos pode alavancar a economia do Estado e, ao mesmo tempo, reduzir a pressão de exploração sobre as populações naturais e com potencial para geração de renda, emprego e desenvolvimento.
Pelo estudo de Krainovic, a proposta da silvicultura como uma boa forma do uso do solo é proporcionar a geração de renda e emprego respeitando a disponibilidade dos recursos para gerações futuras e promovendo desenvolvimento.
A silvicultura econômica pode ser implementada em áreas subutilizadas, degradas ou com histórico de uso por atividades agrícola e pecuária, protegendo o solo e fixando carbono atmosférico em sua biomassa, sendo considerada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) uma boa alternativa de mitigação das mudanças climáticas para a Amazônia.
No entanto, Krainovic destaca que para que isso aconteça é de suma importância que o manejo seja feito da maneira correta, considerando o impacto sobre o solo e a exportação de nutrientes no momento da colheita da biomassa para produção de óleo essencial, o que pode levar solos amazônicos, de baixa fertilidade natural, ao esgotamento.
Publicação
A tese de Krainovic originou dois artigos publicados recentemente numa revista internacional suíça. Um dos trabalhos foi capa da revista Forests edição de setembro/2017 e o outro fez parte da edição especial Forest Ecology and Management da mesma revista em novembro 2017. Outros artigos estão sob análise. Os trabalhos têm possibilidade de serem divulgados mundialmente em congressos que acontecerão na Holanda (na Europa) e em Tókio (no Japão).
Sobre o linalol
O óleo essencial de pau-rosa contém o linalol, que é uma substância de suma importância para a indústria de perfumaria e de cosméticos, principalmente, na fabricação de perfumes finos, a exemplo do famoso Chanel nº5, lançado em 1921.
No caso do óleo essencial do pau-rosa brasileiro, é constituído de aproximadamente 75 a 85 por cento de linalol. É uma substância que mantém por mais tempo os aromas, sendo popularmente chamado de “fixador”. Na produção de perfumaria, o linalol é um importante fixador natural que mantém o aroma por mais tempo.
“O grande diferencial do óleo essencial de pau-rosa brasileiro é que há uma boa quantidade de linalol, adicionado a um buquê de fragrâncias único, fornecido somente por essa espécie, o que é de interesse da indústria de cosméticos e de perfumaria mundial”, explica Krainovic.
Fonte – Inpa