Certificado junto à Agência Nacional de Petróleo (ANP), o Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA), além de ligado à Universidade Federal do Pará (UFPA), é mais um integrante do Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, em Belém, e o terceiro protagonista da série dedicada ao mês nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Especializado no estudo de insumos amazônicos e suas transformações, utilizados principalmente para atender os setores ligados a energias renováveis, alimentos, cosméticos e bioprocessos, o LOA tem como função, além de desenvolver pesquisa de ponta, valorizar os subprodutos oriundos das extrações, promovendo novas utilidades para o que poderia ser descartado ou inutilizado.
O professor universitário Carlos Emmerson Ferreira da Costa, coordenador da estrutura que no momento recebe cerca de 250 pesquisadores, explica que, dependendo da exploração, há situações em que os resíduos gerados são cinco vezes maiores em quantidade do que o item da extração propriamente dita.
“Então a gente trabalha desde o aproveitamento desse residual gerado pela extração do óleo até a análise de controle de qualidade do mesmo, bem como na identificação de novas substâncias e até mesmo alguns processamentos que possam otimizar a atuação de empresas nesse controle de qualidade, de processo e no desenvolvimento de novos produtos”, explica.
O LOA também atua junto a associações ribeirinhas, associações de cooperativas e associações extrativistas, por vezes até mesmo prestando consultoria aos trabalhadores.
Variedade – Qualquer produto de origem vegetal oriundo de plantas oleaginosas pode ser alvo de análise do Laboratório: patauá, óleo de açaí, de andiroba… “Um exemplo bem ilustrativo do que fazemos aqui: todo mundo usa cremes, óleos, cosméticos, óleos vegetais na alimentação ou medicinal, fitoterápicos, enfim. Primeiramente prezamos pela qualidade, por isso fazemos análises que garantem o consumo de um material de boa qualidade, que não seja prejudicial à saúde. Tão importante quanto é o benefício que chega à sociedade se houver arranjos produtivos com um suporte tecnológico e de inovação que dê subsídio a isso. Uma das empresas para a qual prestamos serviço realiza extração de óleo de uma determinada amêndoa, gerando um resíduo muito maior que o óleo extraído. Desenvolveu um processo industrial de valorização desse resíduo, na verdade, desse subproduto”, detalha Emmerson.
Na segunda reportagem da série você conhece o estudo de compostos bioativos que fornece ciência e inovação ao mercado
Para realizar atividades tão minuciosas, o LOA conta com um grupo bem diverso de cerca de 40 integrantes, que inclui alunos e pesquisadores da área de Farmácia, Engenharia Química, Química, licenciaturas, Biotecnologia, Biologia, Engenharia de Alimentos e Nutrição. A prestação de serviço já alcança 20 empresas e cooperativas.
Nacional – Os trabalhos em conjunto já envolveram diversas instituições de Ensino e Pesquisa. Além da própria UFPA, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), a Universidade do Estado do Pará (Uepa), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e mesmo empresas de outras regiões do Brasil. “Diria que o LOA é referência no Brasil”, assegura o coordenador.
No entanto, Emmerson atesta que da mesma forma como o Laboratório sempre precisa de investimentos, cooperações e parcerias, precisa ser visto de forma mais valorosa pela própria sociedade. “Como qualquer órgão que trabalha com pesquisa e inovação, utilizando equipamentos de cara manutenção, requer primeiramente cuidado e volume de investimentos planejado – o apoio que o governo do Estado vem dando é muito importante para o futuro do LOA. Mas é necessário que principalmente os empresários mudem um pouco a mentalidade. Há quem nos procure querendo serviços completamente gratuitos, justificando que se é público, tem que ser de graça. Ainda é forte a cultura de pouca valorização. Tem análise que em São Paulo custa R$ 1 mil. A gente cobra um terço desse valor e não querem pagar”, lamenta.
Conscientização – Ao mesmo tempo, ainda é distante o entendimento da maioria sobre o real significado de inovação, que para muitos é algo quase inatingível. “Inovação se faz com ideias, a cada cinco ideias, a cada 100 ideias boas, cerca de 1% vira um produto rentável. Mas não podemos deixar de investir nas outras 99, ou nunca saberemos o que pode vir”, destaca Carlos Emmerson, lembrado que locais-símbolos nessa área, como o Vale do Silício, na California (EUA), as mais diversas empresas não economizam nesse investimento.
“O êxito pode ser uma vacina, em outras boas ideias. Ainda há quem ache que inovar tem a ver com o celular, o computador de última geração. É muito mais amplo que isso. É ter uma ideia que pode ajudar a resolver o problema de secagem de uma família no interior do Pará, e colocar em prática”, reforça o coordenador.
Prova disso é que hoje há uma incontável quantidade de subprodutos oriundos de extração que a partir de processos relacionados à inovação ganharam valor de mercado superior ao dos produtos diretamente relacionados ao que foi extraído. “Nem todas as ideias chegarão em um lugar de supervalorização, é uma em cada 100, cada 1000, mas esse pensamento tem que persistir. O ambiente é que tem que ser propício”, recomenda ele.
Retorno – Luís Adriano Santos do Nascimento também é professor universitário e um dos pesquisadores do LOA. Ele ressalta o papel de importância do trabalho feito junto às cooperativas – como se fosse uma extensão, no sentido literal, da Universidade, uma forma de devolver em ações práticas o conhecimento desenvolvido na academia.
“Hoje há várias que trabalham só com polpa de frutas, mas que tem em seus quintais um monte de oleaginosas que não são trabalhadas porque ainda não estão organizados para fazer isso, falta o conhecimento técnico. Temos visitado esses lugares fazendo na verdade uma espécie mesmo de consultoria, porque os equipamentos adequados para a extração muitos deles já tem até”, relata Adriano.
Ele cita Igarapé-Miri como um grande exemplo dessa necessidade. A cidade paraense que ostenta o título de melhor açaí do Brasil vive o auge na safra, mas as mesmas famílias que mais lucram com o fruto chegam próximo de passar necessidade até a próxima colheita. “E o quintal dessas mesmas pessoas nessa época ruim fica cheio de andiroba, cupuaçu, cacau. Temos buscado conversar com essas comunidades para que eles se organizem e produzam óleos – a demanda existe”, garante.
O LOA foi pensado para auxiliar a indústria oleoquímica já explorada no Estado por empresas instaladas, e há outras chegando. “Nesses nichos menores, a comunicação nem sempre é fácil, aí acontece que essas indústrias acabam comprando a produção para revender às marcas nacionais e internacionais. A origem está ali naquele extrativismo familiar, de cooperativa. Quem sabe a gente não possa oferecer, futuramente, curso de formação para eles, para seus filhos, partindo do princípio que temos uma riqueza enorme não aproveitada e que precisa da floresta em pé para continuar e crescer”, sugere o pesquisador.
Fonte – Agência Pará
Foto – Divulgação