A pandemia de Covid-19 gerou impacto nos sistemas de reciclagem, com um acréscimo de 25% a 30% na coleta desses materiais, conforme indicativos presentes no Atlas do Plástico 2020, estudo da organização sem fins lucrativos alemã Fundação Heinrich Böll. O fenômeno está alinhado ao conceito de circularidade de plástico, que ganha destaque no Brasil com iniciativas que buscam conscientizar a sociedade com relação ao uso do material.
A alta do uso do plástico se deve, entre outros fatores, ao crescimento no número de pedidos de delivery e e-commerce, que dispararam ao longo da crise sanitária. No país, 55% dos consumidores realizaram compras por delivery nos últimos 12 meses, conforme levantamento da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) realizado em parceria com a SPC Brasil. O comércio eletrônico, por sua vez, teve uma expansão de 75% em 2020 no país, sendo responsável por 11% das vendas do varejo, segundo o relatório Recovery Insights da Mastercard.
Paralelo ao aumento da utilização de plástico durante a atual pandemia, apenas 1,28% deste material é reciclado atualmente no Brasil, o equivalente a 145 mil toneladas, de acordo com a WWF (sigla em inglês para Fundo Mundial para a Natureza), com base em estudo do Banco Mundial.
Murilo Zappellini, Head de Compras da ALPLA América do Sul, afirma que iniciativas como a do Movimento RePEnse – que atua na conscientização da sociedade para a questão da circularidade do plástico – demonstram que o material, em si, não precisa acabar, mas é preciso aprender a utilizá-lo e descartá-lo da melhor forma possível.
“Os números nacionais e globais de relatórios a respeito da produção, consumo e descarte incorreto do plástico só crescem. Entretanto, o plástico não é o vilão: a mudança de comportamento das pessoas e da indústria pode ser a solução para esse problema, basta investir na economia circular”, diz.
Especialista traça o panorama do uso do plástico no Brasil
Para Zappellini, há três principais entraves para o aumento da reciclagem de plástico no país. Em primeiro lugar, faltam políticas públicas que fomentem a disposição correta dos resíduos. Embora exista a Política Nacional de Resíduos Sólidos, nem todos os estados e municipalidades criaram suas leis ou instituíram a coleta seletiva. E, quando fizeram, muitos deles não alcançaram todos os bairros.
“Em segundo lugar, não há conscientização da sociedade em economia circular, mesmo sendo um conceito das décadas de 50 e 60. Na realidade, as pessoas ainda pensam linearmente em extrair, produzir, consumir e descartar e, por isso, precisamos levar a informação, capilarizando o máximo que pudermos, para todas as pessoas”, complementa.
Em terceiro lugar, segundo o Head de Compras da ALPLA América do Sul, o plástico é relativamente mal remunerado na cadeia de reciclagem aos catadores quando comparado a outros materiais, como o alumínio. Ele destaca que o índice de reciclagem de latas de alumínio chegou a 97,6% em 2019, conforme indicativos da Abal (Associação Brasileira do Alumínio) e da Abralatas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas).
“A coleta de materiais que podem ser vendidos mais caros é muitas vezes preferida, o que acaba corroborando com o baixo índice de reciclabilidade de plástico, excetuando-se o PET (Polietileno Tereftalato), cuja cadeia de reciclagem é mais madura e atualmente tem um índice de reciclabilidade de 68%”, afirma.
Apesar disso, na análise do especialista, o Brasil avançou na logística para reciclagem nos últimos anos. Na indústria de embalagem para o agronegócio, por exemplo, há uma logística reversa madura que evita não só a contaminação de aterros, solos e mananciais por agrotóxicos, mas também fomenta a reciclabilidade da embalagem.
“O plástico reciclado pode ser utilizado para fins diferentes de sua originalidade. Ao ser reciclado, pode ser usado na indústria têxtil, embalagens, utensílios domésticos e até em peças automobilísticas de alto valor agregado”, pontua.
Zappellini reafirma que, para conseguir essa feita, são necessários tecnologia, material de qualidade, políticas públicas adequadas e a conscientização da sociedade. “O importante da reciclagem é que seja um processo escalável para que a economia circular alcance os volumes de consumo de uma população imensa”, conclui.
Fonte – Repense
Foto – Divulgação