Na contramão dos bancos, cooperativas de crédito abrem agências

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Enquanto os grandes bancos públicos e privados reduziram o número de agências físicas no ano passado — dados do Banco Central mostram que 2017 encerrou com fechamento recorde e quase 1,5 mil unidades a menos que no ano anterior — cooperativas de crédito seguem estratégia contrária, e quem ganha mais opções de atendimento é o consumidor. Balanço do Sicoob, o maior sistema de cooperativas financeiras do País, registra expansão na rede de 5,7% entre 2016 e 2017, com a criação de 165 novos pontos/agências, o que lhe permitiu tornar-se a quinta maior rede de atendimento no Brasil.

A expansão das cooperativas é uma boa notícia em um mercado fortemente concentrado em quatro grandes instituições que apresentam uma rentabilidade invejável também graças ao poder de formar preços dos empréstimos.

700 agências abertas nos últimos cinco anos

Num cenário em que fusões e aquisições levaram à formação de grandes bancos de varejo, com poucas instituições concentrando grande parte do mercado e reduzindo a competição no setor, o diretor operacional do Sicoob Confederação, Francisco Silvio Reposse Júnior, vê espaço para a expansão das cooperativas. Por não visarem lucro e estarem mais próximas da comunidade e do associado, destaca, elas conseguem cobrar spreads (diferença entre o custo de captacap e a taxa do empréstimo) menores que as demais instituições financeiras, além de oferecer um extenso leque de produtos e serviços e participação nos resultados.

Em paralelo ao atendimento digital — alvo de fortes investimentos dos bancos tradicionais nos últimos anos, em busca de eficiência, enxugamento de custos e segurança — Reposse acredita que as agências físicas ainda são necessárias no processo de expansão e captação de novos associados para as cooperativas, assim como para qualquer instituição que atue no varejo. Nos últimos cinco anos, a instituição abriu 700 pontos de atendimento pelo País.

Diversificação de produtos e serviços

Nas agências de cooperativas de crédito, os associados encontram os principais serviços disponíveis nos bancos, como conta-corrente, aplicações financeiras, cartão de crédito e débito, empréstimos e financiamentos. No Sicoob, diz Reposse, é possível também o pagamento de contas de terceiros. “Nosso portfólio é praticamente completo. Só não conta, por enquanto, com operações de câmbio, mas aguardamos autorização do Banco Central e esperamos oferecer esse serviço ainda no primeiro semestre deste ano”.

Digital representa 71% das transações, mas não dispensa rede física

“É nítido que as operações no mundo digital, online, que já representam 71% das transações em nosso sistema, nos trazem ganhos de eficiência”, diz Reposse Júnior. “Porém, isso ainda não é acessível a todos. E mesmo que signifique custos, nossa estratégia ainda é baseada em estarmos onde exista necessidade, demanda local, como das associações comerciais, das câmaras de lojistas. Buscamos criar relações com as comunidades e associá-las às cooperativas”, explica.

Relacionamento direto e inclusão financeira

“Para nós, significa muito o relacionamento direto, a conversa, o olho no olho com o associado”, completa o executivo, lembrando que muitas vezes as cooperativas são as únicas instituições a atender em algumas localidades, e que ainda existem vários municípios sem a presença do cooperativismo.

No caso do Sicoob, em 200 municípios brasileiros o sistema é a única instituição financeira presente, o que permitiu que mais de 1,2 milhão de pessoas antes não atendidas pelo sistema bancário tradicional fossem incluídas, por meio do cooperativismo financeiro.

Segundo dados do Relatório Anual do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC/2016), o cooperativismo de crédito como um todo no Brasil contava com um total de 8,8 milhões de associados, em 1.041 cooperativas, somando 5.633 pontos de atendimento.

Bancos: 57% das transações em mobile e internet banking, contra 8% nas agências

No caso dos bancos tradicionais de varejo, que no ano passado fecharam quase 1,5 mil pontos de atendimento, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) destaca que, apesar do franco crescimento dos canais digitais, os pontos físicos e outros canais de atendimento também continuam desempenhando papel importante no atendimento aos clientes bancários.

Segundo a última Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária (edição 2017, com dados relativos a 2016), as agências bancárias e POS (pontos de venda no comércio) realizaram 1,2 bilhão de saques, contra 1,1 bilhão no ano anterior. Em relação ao volume de pagamento de contas, o número quase dobrou, passando de 273 milhões para 526 milhões – o que, de acordo com a entidade, mostra que tais canais presenciais se mantém relevantes.

O estudo reforça ainda a tendência de preferência crescente dos clientes em realizar suas transações bancárias por meios eletrônicos – mobile e internet banking que, juntos, representaram 57% das operações realizadas em 2016, enquanto as operações realizadas em agências fisicas somaram 8%.

Estabilidade em número de agências bancárias nos últimos seis anos

Nos últimos seis anos (2010-2016), de acordo com a Febraban, observa-se estabilidade em relação ao número de agências bancárias, com movimentos leves de alta e queda, notando-se que o canal físico passa por fase de readequação e redifinição de seu papel. Em 2016, diz a entidade, mesmo com o arrefecimento da atividade econômica, o número de agências no País registrou leve alta, passando de 22,9 mil para 23,4 mil.

Número de cooperados no Sicoob cresceu 12,8%, para 4 milhões de pessoas

No final do ano passado, ao mesmo tempo em que atingiu 4 milhões de cooperados — um aumento de 12,8% sobre o ano anterior — a rede Sicoob ampliou a capilaridade regional, com a criação das 165 novas agências em estados como São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio de Janeiro, entre outros, totalizando 2.697 pontos de atendimento (sendo 2.231 pontos e 466 cooperativas afiliadas).

Presença ainda concentrada em cidades menores, abaixo de 300 mil habitantes

Uma fatia de 76% dessas agências está em municípios do interior, principalmente em cidades com menos de 300 mil habitantes, sendo ainda um desafio para o sistema as regiões metropolitanas e grandes centros. “Nas grandes cidades, ainda não estamos tão presentes. Mas buscamos nos expandir, o que já vem ocorrendo, por exemplo, na grande BH e em cidades paulistas como Bebedouro e Ribeirão Preto”, diz Reposse Júnior.

Grande parte da matriz de receitas das cooperativas de crédito advém da intermediação financeira, promovendo a troca entre aplicadores e tomadores no próprio município. Nos últimos anos, diz Reposse, o segmento registra ampliação de seu ambiente de atuação, diversificação do portfólio de produtos e serviços e maior qualificação da gestão.

Participação das operações de crédito no SFN ainda é pequena, mas crescente

A participação do crédito do Sicoob no Sistema Financeiro Nacional (SFN), apesar de pequena, vem crescendo ano a ano, tendo saído de uma fatia de 1% em 2015 para 1,5% em 2017.

Entre 2016 e 2017, as operações de crédito apresentaram variação positiva de 11,4%, passando de R$ 38,5 bilhões para R$ 42,9 bilhões. Os financiamentos rurais e agroindustriais totalizaram R$ 12,3 bilhões, 7,3% acima de 2016. A taxa média de juros praticada pelas cooperativas do Sicoob no crédito pessoal, por exemplo, ficou em 2,2% ao mês (29,7% ao ano), enquanto no mercado a média foi de 3,1% ao mês (44,3% ao ano).

Como participar

Para associar-se a uma cooperativa de crédito (pessoas físicas), são necessários carteira de identidade (RG), comprovante de residência e comprovante de renda. Micro e pequenos empresários devem apresentar cartão do CNPJ, comprovante de endereço e de faturamento, além de documentos dos sócios (os mesmos das pessoas físicas).

Só podem ter acesso aos produtos de uma cooperativa de crédito os seus associados, que devem estar de acordo com o estatuto social. O interessado em se associar terá de integralizar um capital social, em valores que variam de acordo com cada cooperativa, geralmente baixos, com cotas a partir de R$ 20,00 para se tornar sócio.

Opções de aplicação e investimento

Essas cooperativas também são opção para quem procura alternativas para investir e oferecem produtos para diferentes perfis, dos mais conservadores aos dispostos a maior risco. As agências costumam oferecer tanto a tradicional caderneta de poupança como o RDC (recibo de depósito cooperativo, equivalente ao CDB dos bancos), LCI, LCAs ou fundos de investimentos.

Proximidade e atendimento diferenciado: caminho para competir com os bancos

Para o economista e professor da Saint Paul Escola de Negócios, Carlos Honorato, as cooperativas de crédito estão no rumo certo ao manter o investimento em agências físicas e cultivar a proximidade no atendimento.

“Enquanto os grandes bancos seguem o caminho do atendimento de escala, muito associado à tecnologia, as cooperativas buscam o nicho do atendimento mais próximo, de maior relacionamento, em que costumam ser muito boas, principalmente no interior e nas áreas rurais, mas já começando a se expandir para as grandes cidades”, analisa.

Ainda que essa estratégia possa ter custos maiores para as instituições, diz o economista, trata-se da melhor e talvez da única forma para que elas possam competir com os intensos investimentos dos bancos em tecnologia, muitas vezes em parcerias com as fintechs, e ganhar espaço de mercado.

Os grandes trunfos das cooperativas, diz Honorato, além de oferecer, em geral, menores custos aos usuários de produtos e serviços, é esse atendimento mais pessoal e customizado, na contramão dos grandes bancos de varejo, onde os canais online agilizam soluções mas tornam o relacionamento mais padronizado e distante, em muitos casos só se chegando ao gerente, por exemplo, num segundo momento.

Desafio é mostrar vantagens do modelo e estimular participação

Já o desafio que ele enxerga para essas instituições é conseguir mostrar que a cooperativa, como se vê em vários países do mundo, desde que exista participação, é um bom negócio. Sendo importante lembrar que o resultado positivo da cooperativa, conhecido como ‘sobra’, é repartido entre os cooperados, em proporção com as operações que cada associado realiza com a instituição. E que, da mesma forma que partilha das sobras, o cooperado fica sujeito a participar do rateio de eventuais perdas.

“No Brasil, tivemos questões de fraudes, que pesaram sobre o sistema, que hoje ganhou maior solidez e segurança jurídica. A cultura do cooperativismo também não é forte em estados como São Paulo, Mato Grosso ou Minas Gerais, como é no sul do país, onde existe tradição”, completa Honorato. “Acredito que o cliente médio de bancos, que geralmente é insatisfeito, pode sentir-se atraído pelas cooperativas por ter soluções mais adequadas a suas necessidades, e sentir-se mais valorizado, ou ainda por ter portas fechadas quando busca soluções para suas demandas nos bancos tradicionais.”

Bancos, fintechs, cooperativas

A dica do economista para o consumidor de produtos e serviços bancários, inclusive para quem está em busca de melhores opções de aplicações, crédito ou financiamento, no atual cenário de queda dos juros básicos, é ficar alerta para três grupos com alternativas diferenciadas: os grandes bancos, as cooperativas e as fintechs.

Pesquisar as alternativas e checar perfil das instituições

Um primeiro passo é pesquisar as opções na internet (o google é de grande ajuda com informações), comparando empresas, ofertas e, principalmente, reclamações, buscando confirmar a idoneidade das instituições antes de contratar seus serviços.

Avaliar custos de oportunidade

Em seguida, orienta Honorato, será importante avaliar os custos de oportunidade, que não são apenas financeiros. A pessoa precisará se perguntar o que é importante para ela no momento: bom atendimento; proximidade com o gerente; soluções personalizadas; cesta de tarifas e taxas de crédito mais baixas; opções variadas de aplicação e/ou financiamento; rapidez e agilidade na obtenção de crédito e assim por diante.

Sem medo de experimentar o novo

“Feitas as pesquisas e comparações, será preciso ainda ter flexibilidade para experimentar as alternativas, em vez de ficar restrito ao relacionamento com seu banco, mesmo que seja de muitos anos”, diz o economista. Ele alerta que também pode ser interessante a pessoa manter, por um determinado período, o relacionamento com seu banco e com a nova opção, seja fintech ou cooperativa.

“O importante é analisar e priorizar necessidades, conhecer opções diferentes, tentar não colocar todos os ovos na mesma cesta e, finalmente, não ter medo do novo, buscando a solução mais adequada ao seu momento e perfil”, conclui.

Fonte – Portal do Cooperatvismo

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