“Cooperativismo é um jeito mais humano de fazer negócio e onde todos saem ganhando”. Esse é mote da campanha Bora Cooperar, criada para divulgar os benefícios de um modelo societário baseado na cooperação e na coletividade. A mensagem traduz os diferenciais das cooperativas quando se pensa em mercado e relacionamento com as pessoas.
Uma das principais características que distingue o cooperativismo de outros modelos de negócio é a sua forma de organização societária. Em vez de decisões centralizadas em um grupo pequeno, nas cooperativas os cooperados também são considerados donos do negócio e têm voz ativa. E mais: todos têm direito a participar dos resultados econômicos quando cumprem com seus deveres.
Mais de 20,4 milhões de brasileiros já perceberam e usufruem das vantagens de cooperar, ao fazerem parte de um movimento que traz benefícios econômicos e sociais para o coletivo. Esse é o número de cooperados que integram as cerca de 4,6 mil coops que estão espalhadas por todo o país. É o que aponta o Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2023. Além da agropecuária, ramo que atualmente reúne o maior número de cooperativas no território nacional, o coop já marca presença em diversos outros setores da economia: no crédito, na saúde, no transporte, na infraestrutura, na educação e muitos outros. Essa variedade mostra o quanto o modelo societário é dinâmico e tem potencial para atender demandas diversas da população, seja para quem quer empreender ou consumir.
O jeito humano é outro fator que atrai cada vez mais pessoas para dentro do cooperativismo. A preocupação com as pessoas é genuína, pois faz parte dos princípios que orientam o trabalho das cooperativas. Além da adesão livre e voluntária dos cooperados, da gestão democrática do negócio e da participação econômica dos membros, as cooperativas têm como diretriz contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades. Esse princípio sintetiza o vínculo do cooperativismo com a sociedade, que pode ser vislumbrado nas ações sociais desenvolvidas pelas cooperativas em benefício das comunidades em que estão inseridas. Muito além do voluntariado, essa conexão é fortalecida sempre que uma coop gera mais e melhores oportunidades de renda, profissionalização e qualidade de vida para a população.
O que é cooperativismo? Entenda o conceito
O cooperativismo pode ser definido como a colaboração entre pessoas com interesses em comum. Quando elas se juntam, conseguem vantagens que dificilmente conquistariam sozinhas.
O começo de tudo foi em 1844, na cidade de Rochdale, interior da Inglaterra. Na época, 27 homens e uma mulher decidiram montar um armazém. Eles adquiriam alimentos em grande quantidade para obter preços melhores. Depois, repartiam igualmente as compras entre os membros do grupo.
A estratégia não só permitiu a sobrevivência desses trabalhadores, como os fez prosperar. Após 12 anos, a Sociedade dos Probos de Rochdale contava com 3.450 sócios – e um capital que saltou de 28 libras para 152 mil libras.
No Brasil, a cultura cooperativista ganhou força no fim do século XIX, nos estados de Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A cooperativa de crédito mais antiga da América Latina, e ainda em atividade, foi fundada em 1902, no município de Nova Petrópolis/RS.
História do cooperativismo de crédito no Brasil
O responsável pela chegada do modelo cooperativista ao país foi o padre suíço Theodor Amstad. O jesuíta chegou ao Rio Grande do Sul alguns anos antes para trabalhar nas colônias de imigrantes alemães.
Enquanto realizava sua função nas capelas do interior, ele observava a precariedade daquelas comunidades. Resolveu, então, apresentar uma solução que tornasse as famílias dos colonos mais prósperas.
Conhecedor do cooperativismo, Amstad juntou-se a 19 lideranças comunitárias para construir a Caixa de Economias e Empréstimos que levava seu sobrenome. A sede da organização ficava na localidade de Linha Imperial, no município de Nova Petrópolis. Hoje a organização é denominada Sicredi Pioneira RS.
Como funciona uma cooperativa?
As sociedades cooperativas são formadas por indivíduos que exercem uma atividade econômica em comum. Elas não visam ao lucro, mas, sim, à prestação de serviços aos associados. As regras para o funcionamento estão descritas na Lei Nº 5.764/71, que define a Política Nacional de Cooperativismo.
Uma cooperativa pode ajudar produtores rurais a adquirirem equipamentos agrícolas, por exemplo, ou oferecer empréstimos a juros baixos. Também pode promover cursos de capacitação para qualificar os trabalhadores.
Quem define os rumos do negócio são os próprios cooperados. Todos têm poder de voto em assembleias. Isso permite que as decisões conjuntas contemplem os interesses coletivos tanto quanto os individuais.
Cooperativismo: ramos de atuação
Há diferentes segmentos do cooperativismo, conforme o ramo de atuação e as necessidades dos envolvidos. A lista foi atualizada em 2020, chegando à seguinte classificação:
Agropecuário: esse segmento abrange as cooperativas de produtores rurais e de pescadores, entre outras. A união das forças ajuda na comercialização e no armazenamento da produção, além de possibilitar assistência técnica para os associados.
Crédito: o grupo é composto por cooperativas que prestam serviços financeiros, como empréstimo, financiamento e aplicações. Elas têm o objetivo de facilitar a entrada dos participantes no mercado, já que operam com taxas mais baixas e com menos burocracia.
Transporte: esse setor envolve as pessoas que atuam no transporte de passageiros e aquelas que transportam carga. Para tanto, os cooperados devem ser proprietários dos veículos em circulação. Há modalidades variadas dessas cooperativas – para táxi, ônibus, transporte escolar, frete de mercadorias etc. Cada uma tem suas especificidades.
Trabalho, Produção de Bens e Serviços: esse segmento do cooperativismo contempla a prestação de serviços especializados, indo do turismo ao beneficiamento de material reciclável. As organizações surgem para elevar a remuneração e as condições de trabalho de uma determinada categoria.
Saúde: essas associações cooperativas são formadas por médicos, dentistas ou outros profissionais da área. Ainda, pode abranger usuários comuns para a constituição de uma operadora de plano de saúde.
Consumo: cooperativas de consumo existem para viabilizar a compra coletiva de produtos ou serviços. Dessa maneira, os cooperados obtêm preços mais competitivos e poupam recursos, garantindo a sustentabilidade financeira de seus negócios.
Infraestrutura: por fim, o ramo do cooperativismo de infraestrutura fornece imóveis, energia elétrica, rede de telefonia e outros serviços essenciais. Isso possibilita o acesso a uma estrutura básica para o crescimento econômico e produtivo dos pequenos associados.
Estima-se que uma em cada sete pessoas no mundo esteja ligada ao cooperativismo. O movimento está presente em pelo menos 100 países e é responsável por 250 milhões de empregos. Os dados são do Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).
7 princípios do cooperativismo
Mas qual será o segredo para a longevidade do espírito cooperativista? Talvez a resposta esteja nos princípios norteadores desse modelo organizacional. São valores sólidos, que vêm sendo reforçados desde o início das atividades em Rochdale, no ano de 1844.
1. Adesão voluntária e livre
Qualquer pessoa interessada em participar de uma cooperativa é bem-vinda, desde que esteja alinhada ao objetivo econômico da instituição e disposta a assumir a responsabilidade. Não existe discriminação por gênero, etnia, classe, ideologia política ou crença religiosa. Essa máxima também se aplica às centrais e federações (cooperativas de cooperativas) e às confederações (cooperativas de federações).
2. Gestão democrática
O controle de uma cooperativa é exercido por todos os seus membros. Eles podem – e devem – participar ativamente da formulação de políticas e das tomadas de decisão. Para que esse processo ocorra de forma organizada, são conduzidas eleições, nas quais se escolhem os representantes oficiais do grupo. Ou seja: a gestão dos trabalhos se baseia numa postura democrática.
3. Participação econômica dos membros
Assim como têm o direito de tomar decisões, os cooperativados têm o dever de contribuir com o capital da organização. O montante se torna propriedade comum da cooperativa – para aquisição de equipamentos, custeio das atividades etc. Se houver excedente, o dinheiro pode ser revertido em benefício dos membros. A destinação dessa quantia costuma ser definida em assembleia.
4. Autonomia e independência
Cooperativismo sempre foi sinônimo de liberdade. Portanto, nada deve mudar isso. As cooperativas até podem firmar acordos com outras organizações públicas ou privadas, mas o controle democrático tem de continuar nas mãos dos membros. Essa independência em relação aos demais poderes é o que favorece a ajuda mútua entre os participantes, com base nos seus interesses comuns.
5. Educação, formação e informação
Uma das funções do cooperativismo é atuar no desenvolvimento das comunidades nas quais as associações estão inseridas. Isso se faz com educação. Palestras, cursos técnicos e workshops contribuem para a capacitação dos associados. Assim, eles podem qualificar ainda mais seus negócios, gerando produtividade e conquistando mais competitividade de mercado. E, claro, trazendo mais retorno financeiro às próprias cooperativas.
6. Intercooperação
Cooperar significa trabalhar em conjunto. A soma das partes dá força para o movimento seguir adiante. Porém, às vezes, essa união não fica restrita a estruturas locais. Pode haver cooperativas regionais, nacionais e, por que não, internacionais. O que importa é agir em prol do bem comum, independentemente de barreiras geográficas ou culturais.
7. Interesse pela comunidade
Ainda que o cooperativismo possa se espalhar pelo mundo inteiro, a fagulha inicial parte de comunidades menores. Existe uma intenção genuína de agir em favor do desenvolvimento sustentável, e isso sempre começa numa escala micro. Desse modo, as políticas aprovadas pelos cooperados levem em consideração a realidade do entorno, de forma que os problemas locais sejam sanados e a região prospere.
Benefícios do cooperativismo
Agora que você compreende toda organização, papéis, funções e responsabilidades do cooperativismo, é importante estar por dentro dos benefícios e vantagens de integrar uma cooperativa, independente do seu segmento.
Um dos grandes diferenciais do cooperativismo está no fato de que toda sua atuação tem como premissa os valores humanos. Como o cooperativismo não prevê lucros, é possível conciliar resultados econômicos com desenvolvimento humano.
Dessa forma, o cooperativismo gera ganhos não somente para seus cooperados, mas também para toda sociedade no seu entorno.
Essa atuação só é possível porque no cooperativismo o principal são as pessoas. Toda ação é democrática e visa ao bem comum. Assim, outra questão importante é sobre a igualdade entre os membros.
Na cooperativa, o cooperado tem o retorno proporcional à sua participação. Isso permite que a relação entre cooperativa e cooperado seja justa e com condições comerciais acessíveis.
Fonte – Ascom
Foto – Divulgação




