Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma crise de saúde global, a sepse acomete 50 milhões de pessoas a cada ano. Dessas, 11 milhões morrem da doença. No Brasil, as infecções generalizadas já são a terceira causa de morte no País. Além disso, entre as pessoas que se curam, de 30% a 40% ficam com sequelas – como fraqueza, transtornos cognitivos e incapacidade –, o que demanda reabilitação. Bruno Besen, médico intensivista da UTI Clínica e pesquisador do Laboratório de Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica como funciona a doença e aborda as preocupações dos médicos.
A sepse
Alguns casos podem começar na comunidade, com um indivíduo desenvolvendo, em casa, uma infecção. O médico explica que, em casos mais simples, o paciente é tratado no ambiente ambulatorial, através de antibióticos, sem necessidade de hospitalização. Entretanto, alguns casos evoluem para a infecção generalizada – “um quadro em que a infecção perde o controle no organismo e passa a afetar o funcionamento dos órgãos”.
A maioria das infecções, entretanto, se inicia quando o paciente está hospitalizado, as chamadas “infecções associadas ao cuidado de saúde”. Esse cenário causa grande preocupação na comunidade médica e contribui para os casos de sepse global.
Origens
Segundo Besen, a sepse é dividida em três fases. Primeiramente, o paciente desenvolve uma infecção específica, como pneumonia, infecção urinária, apendicite ou meningite, por exemplo. Depois, se esse quadro começa a afetar outros órgãos – devido a uma resposta desregulada do próprio organismo –, ele passa a ser chamado de sepse. O último estágio é chamado de choque séptico, em que o paciente tem uma infecção tão intensa que sua pressão cai e os órgãos são afetados profundamente.
Os sintomas da sepse são os mesmos da infecção que a desencadeou – se for uma pneumonia, por exemplo, o paciente apresenta tosses, catarro e febre –, além de somar outros fatores, como falta de ar e tontura. O que caracteriza a infecção generalizada é a identificação médica que [a infecção] está afetando outros órgãos além do foco inicial”, discorre o especialista. Uma das formas de agilizar o processo de tratamento se faz por um diagnóstico precoce, tanto no hospital quanto fora, antes que os órgãos sejam afetados. Além disso, Besen pontua que também é importante evitar a infecção, sempre que possível.
Quando o indivíduo apresenta uma infecção bacteriana, os profissionais de saúde indicam antibióticos para realizar o tratamento. Durante a pandemia, houve um uso indevido de medicamentos antimicrobianos, que não foram eficazes contra doenças virais. “Quando usamos remédios de forma inadequada e em grande quantidade, o que é comum nos casos de antibióticos, as bactérias começam a ficar resistentes e os pacientes perdem uma alternativa terapêutica” pontua.
Tratamento na UTI
Como explica Besen, existem duas especialidades médicas que conseguem promover um tratamento mais eficaz ao paciente com sepse. A primeira, a Medicina de Emergência, é responsável por identificar os casos graves, a fim de realizar um atendimento mais acelerado. Caso o indivíduo precise de atendimentos intensivos, ele seguirá para a Terapia Intensiva, especialidade responsável por promover suporte para que o paciente consiga se recuperar da infecção.
“Nosso objetivo, na terapia intensiva, é realizarmos o tratamento com muita qualidade, para que os cuidados não causem infecções secundárias, por exemplo” explica Besen. Dependendo do quadro, o paciente pode precisar do tratamento por um período extenso, e os esforços realizados por seu corpo podem resultar em sequelas.
Alguns estudos norte-americanos e brasileiros mostraram que os pacientes que se recuperam de um quadro de sepse têm um aumento de três vezes, com relação a pessoas que não tiveram, de desenvolver transtornos cognitivos leves e moderados. “Há uma prevalência grande de problemas de saúde mental após sair do hospital Por exemplo, um terço pode desenvolver sintomas de ansiedade, quase um terço sintomas de depressão, de estresse pós-traumático” exemplifica.
Além disso, existe também um componente de recuperação física, a partir do momento em que os pacientes têm dificuldade para voltar a realizar atividades básicas do dia a dia. Por isso, Besen aponta que é de grande importância que os médicos promovam serviços de reabilitação para que os pacientes consigam se recuperar nessa fase.
Superbactérias
O médico explica que, hoje em dia, esse tipo de bactéria – organismos resistentes a muitos antibióticos ou a todos os antibióticos que não possuem alta toxicidade – é uma grande preocupação para a comunidade médica. Se infecções não conseguem ser prevenidas por terapias e tratamentos, os médicos acabam usando mais antibióticos, o que pode gerar o surgimento de superbactérias.
Besen conclui que, constantemente, os médicos buscam melhorias para tratar os casos da melhor forma possível. Esse cenário pode ser alcançado através de diagnósticos precoces e eficientes e promoção do acesso a unidades de terapia aos pacientes necessitados, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS).
Fonte – USP
Foto – Divulgação