Os dados preliminares do Censo 2022 publicados pelo IBGE mostram que a pirâmide etária brasileira (que já não era uma pirâmide, mas um vaso) tornou-se mais estreita na base e mais larga no alto, no período entre 2012 e 2022. O crescimento da população brasileira no período foi de quase 8,0% (como os dados são preliminares não me preocuparei tanto com a precisão deles, sendo, portanto, aproximados). Mas o que chama a atenção dos pesquisadores é que a população com mais de 60 anos, aquela conhecida como idosa aumentou para quase 15% da população total. Ou seja, o número de pessoas idosas no Brasil chegou a mais de 30 milhões, crescendo quase 40% nesses 10 anos.
Os dados são gritantes: a população cresceu 8%, mas a população idosa cresceu 40%. A expectativa de vida cresceu, o número relativo de óbitos diminuiu, vivemos mais. Eu mesmo cheguei aos 70, minha mãe chegou aos 97 e estamos saudáveis.
O que chamou a atenção dos pesquisadores precisa chamar a atenção dos poderes constituídos para a necessidade urgente de se promover políticas públicas de atendimento e cuidados com a população idosa. Envelhecemos, não temos o vigor da juventude e muito menos a força de trabalho e promoção de renda para gerenciar nossa autonomia e sustentabilidade, tanto em termos financeiros quanto de saúde.
O próprio noticiário jornalístico mostra, cotidianamente, a violência e o descaso com a população idosa. Por exemplo, o déficit de pessoal no sistema de saúde brasileiro é simplesmente criminoso. É preciso que olhemos com carinho a situação que emerge da pesquisa, senão correremos o risco de ter uma parte grande da população vivendo no abandono e na miséria nos próximos anos.
Por outro lado, o nosso envelhecimento não precisa ser considerado um fardo para o sistema. Vivemos mais e com mais saúde também. E temos um capital social com um enorme potencial. Temos competências adquiridas nos anos de trabalho, temos experiência de vida e temos muitas histórias para contar e não as queremos esquecidas. Este capital social pode ser usado no trabalho cotidiano de cuidado, de trocas, de vivências, principalmente no trato com os jovens.
Aumento do número de vovós e vovôs
O IBGE demonstra que aumentou o número de vovós e vovôs e diminuiu relativamente o número de netos e netas. Tenho um neto e uma neta e tem mais um bebê a caminho. E posso fazer muito por eles porque é sempre um prazer acompanhar a trajetória deles na vida que os aguarda. Já viajei mil e quinhentos quilômetros, de ônibus, só para vê-los. Além disso, escrevo, publico e conto histórias, umas de minha vida, outras de minha imaginação (essa não falta).
E sermos úteis, sentirmos que temos uma função social importante, é um santo remédio para a longevidade e combate à demência. E mais importante ainda: é um placebo, portanto, mais barato para o sistema de saúde. No entanto, tem sempre um “no entanto”, precisamos de um novo modelo de sociedade.
Podemos começar com um decreto: já que em 26 de julho é o Dia Internacional dos Avós, que tal o Congresso Brasileiro transformar o mês de julho em Mês da Avosidade? Acompanhado de uma série de proposições que, não só facilita a vida das pessoas idosas, mas também cria novos modelos de utilização de suas competências para a melhoria dos relacionamentos intergeracionais, inclusive com geração de renda em prol de seus próprios processos de envelhecimento. É possível. Basta acreditar e fazer. Vovôs e vovós do Brasil, vamos mudar nosso medo do futuro mudando nosso presente?
Foto – Portal do Envelhecimento
Foto – Divulgação