Conhecer o Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (Safta), que alia produtividade com sustentabilidade em um modelo inovador e único no mundo, foi o ponto alto do encontro de lideranças do cooperativismo do Mercosul esta semana no estado do Pará. Na quarta-feira (29), pela primeira vez desde 2001, a Seção Plenária da Reunião Especializada de Cooperativas do Mercosul, a RECM, realizou sua reunião na Região Norte do país. A RECM é o órgão de integração das cooperativas do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, e o encontro foi liderado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), com o apoio do Sistema OCB. O grupo é presidido neste semestre pelo Brasil.
A visita à Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu, a Camta, aconteceu na quinta-feira (31) e encantou os representantes do grupo econômico. Na primeira parte, eles conheceram a história da organização que também se confunde com a história da migração japonesa para a região. O presidente da Camta, Alberto Oppata, destacou os desafios que as primeiras famílias precisaram superar e os aprendizados que, desde os primeiros anos, o cooperativismo trouxe para o sucesso das atividades desenvolvidas por eles. Fundada em 1931, a cooperativa é atualmente referência mundial em sustentabilidade econômica e ambiental.
“Tivemos um período em que a pimenta do reino ou o diamante negro, como ela é conhecida, era a única cultura que desenvolvíamos. Uma praga, no final dos anos de 1960, no entanto, dizimou toda a plantação. Foi então que começamos a semear culturas de curto, médio e longo prazo que convivem em harmonia umas com as outras e também a com a floresta nativa”, contou Oppata. Ele explicou ainda que o Safta evita o desmatamento, permite o cultivo em áreas degradadas e, por consequência, auxilia na recuperação da biodiversidade da região. “O sistema agroflorestal mantém o solo úmido e fértil, respeita o clima, não empobrece a terra e aumenta a produtividade. Também reduz os gases de efeito estufa em pelo menos cinco vezes”. Ainda segundo ele, o sistema é hoje adotado também em países como Bolívia e Ghana, na África.
A segunda parte da visita permitiu aos delegados da RECM, a observação, in loco, dos processos que envolvem o Safta que, atualmente, gera impactos positivos para mais de 10 mil pessoas, com a produção de culturas diversas como açaí, cacau, dendê, pupunha, castanhas, frutas em geral e pimenta do reino. Uma das plantas conhecida por eles foi a de produção do Dendê, ou óleo de palma, feito de forma totalmente sustentável. O projeto é fruto de uma pesquisa científica realizada durante 13 anos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e incorporada pela Camta para produzir e proteger o meio ambiente ao mesmo tempo. O grupo também visitou a planta de processamento de açaí, que trata 100 toneladas da fruta por dia e exporta 50% da produção para países como Japão e Alemanha.
Seção Plenária
Os assuntos em pauta durante a Sessão Plenária da RECM abordaram informes, a apresentação do modelo brasileiro de descarbonização da cadeia produtiva, alguns dos selos de produção do Brasil e os esforços de cada um dos quatro países nos temas de sustentabilidade. Participaram, presencial ou virtualmente, representantes de todos os quatro países do bloco econômico. O objetivo foi apresentar as boas práticas na sustentabilidade brasileira para os representantes do cooperativismo dos outros países, e, em seguida, ouvir desses representantes seus esforços no mesmo caminho. Os representantes também apresentaram seus relatórios com indicações e explicações sobre os principais acontecimentos que envolveram o cooperativismo em suas de seus países, como eventos internacionais, fóruns de discussão, avanços legislativos, mudanças na estrutura administrativa e outros temas pertinentes.
A RECM é um órgão de discussão entre governos no âmbito do Grupo Mercado Comum (GMC). Ela foi criada em 2001 para servir como fórum de deliberação entre as lideranças do cooperativismo – e de outras instituições da economia social – para promover esse modelo de negócio como um setor diferenciado e garantir a sua adequada tributação.
O Sistema OCB atua ativamente nas discussões desde o início dos trabalhos da Reunião. Em parceria com o Comitê de Acesso a Mercados da RECM. A entidade apoiou, por exemplo, a implementação de duas missões de prospecção comercial: uma para a África Austral, incluindo Botsuana, África do Sul e Namíbia; e uma para Israel. Em 2023, o Ministério da Agricultura está organizando, novamente em parceria com o Sistema OCB, uma missão conjunta de prospecção para o Sudeste Asiático, passando por Singapura, Índia e Filipinas.
Fonte – OCB
Foto – Divulgação